terça-feira, 8 de março de 2011

Lorca 3 - Os Títeres de cachamorra

Desenho que abre o texto na edição está sem assinatura

Li a tradução de Oscar Mendes para a Editora José Aguilar (1975)
OS TÍTERES DE CACHAMORRA
(Tragicomédia de Dom Cristóvão e Sinhá Rosita)
FARSA GUINHOLESCA EM SEIS QUADROS E UMA ADVERTÊNCIA

Personagens
O MOSQUITO
ROSITA
O PAI
COCOLICHE
O COCHEIRO
DOM CRISTOVINHO
CRIADO
UMA HORA
RAPAZES
CONTRABANDISTAS
ESPANTANUVES, taberneiro
CURRITO, o do Porto
CANSA-ALMAS, sapateiro
FÍGARO, barbeiro
UM MALANDRO
UMA MOCINHA DE AMARELO
UM MENDIGO CEGO
MOÇAS
UMA LOUREIRA COM LUNARES
UM COROINHA
CONVIDADOS COM TOCHAS
PADRES DP ENTERRO
CORTEJO

Advertência
Por conta do Mosquito a apresentação do se seguirá. Música, antes da mudança: "Quatro folhinhas tinha/minha arvorizinha/e o ar as movia".

Primeiro quadro
Situação de penúria financeira na casa de Rosita e Dom Cristóvão. Rosita quer casar-se com Cocoliche. Seu pai, indiferente e ignorante dos fatos, lhe arranja outro noivo: Dom Cristovinho.

Segundo quadro
Rosita dá a notícia a Cocoliche e o trato do casamento é fechado entre o Pai e Cristovinho.

Terceiro quadro
Na taverna de Espantanuvens, dois contrabandistas. Entra um jovem com capuz, depois dois amigos de Cocoliche mais ele próprio. O mascarado se interessa em saber quem é Rosita, mas logo vai embora, supostamente achando tratar-se de outra pessoa. Logo chega Cristovinho, que sofre provocações dos rapazes, agora escondidos atrás dos tonéis. Quem apanha de cachamorra é Espantanuvens. Cocoliche e os dois amigos vão embora e, depois, também Cristovinho, humilhado.

Quarto quadro
Os amigos deixam Cocoliche bêbado na praça e logo reaparece o Mosquito. Repelido por Cocoliche, o Mosquito se irrita e vai embora. Reaparece o jovem encapuzado e outro rapaz. O jovem é Currito, o do Porto, antigo amante de Rosita, que agora de volta quer vê-la a qualquer custo. Eles pedem ajuda a Cansa-Almas, o sapateiro. Combinam que quem levará os sapatos de casamento para Rosita será Currito. Cocoliche sonha: declara juras de amor a Rosita, e de ódio a Cristovinho. Rosita aparece no sonho, vestida de luto.

Quinto quadro
Na rua da barbearia, da sapataria e da pousada, conversam Fígaro, o barbeiro, e Cansa-Almas, o sapateiro. Chega Currito, que parece não ter boas relações com Fígaro e toma os sapatos para os levar a Rosita. Chega Cristovinho para fazer a barba, chamando a todos de ladrões, até Fígaro. Da pousada saem uma moça de amarelo cantando um canção que parece zombeteira e direcionada a Cristovinho. Um Velho Mendigo, com um acordeão, toma assento dentro da pousada. A Moça de amarelo vai até a barbearia. Da janela da pousada se vê uma Loureira com lunares, abrindo e fechando um grande leque.

Sexto quadro
Casa de Rosita. Rosita chorava seu destino, quando ouve a voz de Currito, que abre a capa e se revela como aquele que se foi pelo mundo e voltou para casar-se com ela. Ela o repudia mas ele não se abala e se coloca diante do pai e dela como o sapateiro, para a prova dos sapatos de casamento. O pai sai tranca as portas. Cristovinho vem chegando e, como não há saídas, Rosita esconde Currito no armário. Cristovinho deixa claro suas habilidades de assassino. Um coroinha traz recado do padre, de que está tudo pronto para o casamento. Cristovinho sai para se arrumar e, enquanto Currito pede para ser retirado do armário, entra, pela janela, Cocoliche, em cujos braços Rosita se joga. Os dois a imaginam como vadia. Cristovinho está voltando e Rosita, não vendo outra saída, esconde também Cocoliche num armário. O Mosquito reaparece para ensinar: "A terra tem caminhozinhos brancos, caminhosinhos lisos, caminhosinhos loucos... (...) A lua não é tão minguante, nem o ar vai, nem o ar vem...". Cristovinho desconfia da presença dos pretendentes mas bebe demais e dorme, embalado pelas palavras de Rosita, que tentará libertar Cocoliche (que se nega a sair) e Currito. O Mosquito reaparece, tocando a cornetinha no ouvido de Cristovinho. Rosita se nega a Currito e se declara a Cocoliche. Liberta Currito, que tenta fugir. O Mosquito, com um forte sopro na corneta, acorda Cristovinho. Currito saca o punhal e agride Cristovinho no peito, mas não mortalmente. Enquanto isso, Rosita consegue abrir uma das portas, por onde foge Currito, perseguido por Cristovinho, com o punhal cravado no peito. Cristovinho volta e encontra os dois, Rosita e Cocoliche, em idílio, mas cai e morre. Rebentou. Entram vários bonecos, O Mosquito à frente, com uma bandeira branca e tocando a corneta. Os chiados que saem de Cristovinho vão mudando de tom e então o colocam no caixão. O Mosquiyo sai da comitiva, anunciando que Cristovinho não voltará, que vão enterrá-lo.

Indicações para as cenas

Advertência
"Soarão dois clarins e um tambor. Por onde se quiser, entrará o Mosquito. O Mosquito é um personagem misterioso, metade duende, metade fantasma, metade inseto. Representa a alegria do viver livre e a graça e a poesia do povo andaluz. Traz uma cornetinha de feira"

Primeiro quadro
"Sala baixa em casa de Dona Rosita. No fundo, uma gelosia  e porta. Pela gelosia vê-se um bosquezinho de laranjas. Rosita está vestida de cor-de-rosa e traz um traje de anquinhas, cheio de fitas e rendas. Ao levantar-se o pano, está sentada bordando num grande bastidor".

Segundo quadro
O pequeno palco representa uma praça de uma aldeia andaluza. À direita, a casa de Sinhá Rosita. Deve haver uma enorme palmeira e um banco. Aparece pela esquerda Cocoliche, rondando, com uma guitarra nas mãos e envolto numa capinha verde-escuro com fitas pretas bordadas. Veste o traje popular de princípios do século XIX, e traz posto com garbo o chapeuzinho calanês".

Terceiro quadro
"Uma taberna da aldeia. Ao fundo barris e jarras azuis nas brancas paredes. Um velho cartaz de touros e três candeeiros. Noite. O taberneiro está por trás do balcão. É um homem em mangas de camisa com  o cabelo teso e o nariz chato. Chama-se Espantanuvens. À direita, um grupo de contrabandistas clássicos, vestidos de veludo, com barbas e trabucos. Jogam e cantam".

Quarto quadro
"A praça anterior, mas muito menos iluminada pela lua. A palmeira amarela se destaca sobre um céu azul sem estrelas. Pela esquerda entram os rapazes embriagados, trazendo Cocoliche bêbado".

Quinto quadro
"A cena representa uma rua andaluza com casas brancas. Na primeira casa há uma sapataria; na segunda, uma barbearia, com o espelho e a cadeira ao ar livre. Mais além, um grande portão, com este letreiro: 'POUSADA DE TODOS OS DESENGANADOS DO MUNDO'. Sobre a porta, um coração de grande tamanho, atravessado por sete espadas. É manhã. Em sua sapataria está Cansa-Almas sentado em seu banco, costurando uma bota de montar, e, esperando junto ao salãozinho, Fígaro, vestido de verde, com pequena rede negra e tufos de cabelo sobre as orelhas, afinando uma navalha com comprido afiador".

Sexto quadro
"Casa de Dona Rosita. Nas varandas da frente, dosi grande armários com gelosias claras na parte superior. No teto, um cadeeiro de azeite. As paredes têm um levíssimo tom de aúcar rosado. Sobre a porta um retrato de Santa Rosa de Lima, sob um arco de limões. Dona Rosita aparece vestida de cor-de-rosa. Grande traje de noiva, cheio de babados e complicadíssimas faixas. Sobre o decote, um colar de azeviche".

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