sábado, 12 de julho de 2014

rapsody in blue

Cuidado para não sentir como se fosse apenas tristeza,
Porque não é.
Não é, não.
Não!
Não canto, querida; não, não sou músico.
Sei, no entanto, que hoje cantaria para o céu azulzinho.
É simples: a vida não vem em ondas, mas em músicas.
Harmonias, arpejos, ritmos, melodias, alturas...
Um grito esganiçado e pronto: eis a mensagem. Poeira.
Ouço o som doce e triste do pássaro, querida.
Amor: só sei deixar crescer as asas para que o ser amado voe;
Cultivar raízes para que tenha motivos para ficar;
Oferecer gestos, sons, olhares e cuidados...
Para que exista vontade de voltar.
Amores são do vento, dos sons que o vento traz e leva.
Somos todos uma coisa só: sons de mil notas e tons.
Cuidado para não ouvir como se fosse apenas tristeza,
Porque não é.
Não é, não.
Não!
Meu canto blue é da alma que não é minha.
Meu canto blue é reflexo de folhas de árvores se roçando.
Meu canto blue é o de chifres de bois se batendo.
Meu canto blue é o da água murmurando...
Da pedra rolando,
Da pétala caindo,
Da folha seca alçando voo...
Não quero nada para mim, pois nem sei prender nada.
Digo melhor, acho: quero apenas ser e ouvir,
Quero ser eu, que não sei o que é.
Cuidado para não ler como se fosse apenas tristeza,
Porque não é.
Não é, não.
Não!

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Texto: Gilson.

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