domingo, 9 de dezembro de 2012

O passado e o futuro: as duas faces de Jano



Em cena, Joana de Áustria (ou Joana de Espanha ou Joana de Habsburgo) (mãe de D. Sebastião), a Rainha Isabel (sua mãe) e Francisco de Gandía (São Francisco de Borja):

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"Viste as duas faces de Jano, disse ele. 'Agora precisas de saber qual é a verdadeira.'

'Não são sempre as duas', riu Isabel, dia sim, dia não?'. E ficou a sorrir para além das palavras.

Mas Joana tinha uma imaginação mais literal do que a mãe:

'Quais? Também temos?'

(...)

'Por vezes é necessário saber escolher', disse finalmente Francisco como se em resposta à pergunta de Isabel, que não era pergunta, é à pergunta de Joana, para a qual não era resposta.

'Sim, deves ter razão. Também já disse à minha Joana. É preciso saber escolher entre o que se deve lembrar e o que se deve esquecer.'

'Não foi isso que eu disse.'

'Ah, não?' E Isabel riu de novo aquele sorriso só dela que mesmo naquela casa sem risos se tornava logo de todos."

HELDER MACEDO, em Vícios e virtudes.


 

Missa das onze e meia

Um lugar na Cisjordânia

A passagem do ano litúrgico me encontrou entre a tensão pré e a ressaca pós qualificação no mestrado. E lá se foram dois domingos sem este clássico momento de falar sobre a visita ao Templo.

25 de novembro de 2012: 34º DTC: Jesus, Rei do Universo;
02 de dezembro de 2012: 1º Domingo do Advento;
09 de dezembro de 2012: 2º Domingo do Advento.

 "Olhai! Ele vem com as nuvens, e todos os olhos o verão" (Apoc. 1, 7).

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Led Zepelin hoje à noite



There's a lady who's sure all that glitters is gold
And she's buying a stairway to heaven
When she gets there she knows if the stores are all closed
With a word she can get what she came for

And she's buying a stairway to heaven

There's a sign on the wall, but she wants to be sure
'Cause you know sometimes words have two meanings
In a tree by the brook there's a songbird who sings
Sometimes all of our thoughts are misgiven

Oh, it makes me wonder
Oh, it makes me wonder

There's a feeling I get when I look to the west
And my spirit is crying for leaving
In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees
And the voices of those who stand looking

Oh, it makes me wonder
Oh, really makes me wonder

And it's whispered that soon, if we all call the tune
Then the piper will lead us to reason
And a new day will dawn for those who stand long
And the forests will echo with laughter

If there's a bustle in your hedgerow, don't be alarmed now
It's just a spring clean for the may queen
Yes, there are two paths you can go by, but in the long run
There's still time to change the road you're on

And it makes me wonder

Your head is humming and it won't go
In case you don't know, the piper's calling you to join him
Dear lady, can you hear the wind blow
And did you know your stairway lies on the whispering wind

And as we wind on down the road
Our shadows taller than our soul, there walks a lady we all know
Who shines white light and wants to show
How everything still turns to gold and if you listen very hard

The tune will come to you at last
When all are one and one is all, yeah
To be a rock and not to roll
And she's buying a stairway to heaven


domingo, 2 de dezembro de 2012

vinte dias

Vinte dias exatos sem aparecer aqui,
espaço que inventei de colagens,
fragmentos,
fios...
Saudade e mais me trazem...

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Pequenina flor dos meus dias
Com o riacho descia, desviando-se
Com ele, nele, dos lajedos
Do caminho. Descaminhos.

Furtivos movimentos de descida;
Abandono dos sonhos noturnos;
Devaneios diurnos de pura flor
Que o riachinho levava.

De qual margem olhava...
De subir ou descer quem sabia...
A vida morava dentro do rio
Que corria para a barra.

(Outra via, outra via, outro rio)
O som da água nas pedras,
O lajedo resistente, as margens...
Tudo dizia: “Eu nego o movimento”.

Sou sempre eu mesmo.
Só consigo mudar miligramas,
milimétricas faíscas.

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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Tintas

Óleo sobre tela (Pintura e foto: Imaginário)

Óleo sobre tela (Pintura e foto: Imaginário)




Sozinho ou mal acompanhado, antes sóbrio do que bêbado.
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Todas as línguas juntas não conseguem formar uma única frase de sonho.
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Quem cospe para cima é melhor que esteja em movimento.



domingo, 11 de novembro de 2012

Horas e linhas

Goiânia-GO (Foto: Imaginário)

Goiânia-GO (Foto: Imaginário)

Fazenda em Minas Gerais (Foto: Imaginário)

Rio São Francisco em Pirapora-MG (Foto: Imaginário)

Rio São Francisco em Pirapora-MG (Foto: Imaginário)

Rio São Francisco em Pirapora-MG (Foto: Imaginário)


Estrada em Goiás (Foto: Imaginário)

Quando percebia havia passado horas observando as linhas das palmas de minhas mãos. Pensava no prolongamento delas, cada ponta se estendendo, abrindo-se, espalhando no vazio a necessidade do encontro. A eternidade é um espaço e o infinito é isto mesmo: nada. O fato é que às vezes consigo pensar em tudo em menos de um segundo e, o que é mais comum, ficar horas e horas pensando em nada.




Missa das onze e meia



N.Sra. da Conceição, Congonhas-MG (Foto: Imaginário)


No centro da celebração, duas viúvas:

“Então, Elias se levantou e se foi a Sarepta; chegando à porta da cidade, estava ali uma mulher viúva apanhando lenha; ele a chamou e lhe disse: Traze-me, peço-te, uma vasilha de água para eu beber. Indo ela a buscá-la, ele a chamou e lhe disse: Traze-me também um bocado de pão na tua mão. Porém ela respondeu: Tão certo como vive o SENHOR, teu Deus, nada tenho cozido; há somente um punhado de farinha numa panela e um pouco de azeite numa botija; e, vês aqui, apanhei dois cavacos e vou preparar esse resto de comida para mim e para o meu filho; comê-lo-emos e morreremos. Elias lhe disse: Não temas; vai e faze o que disseste; mas primeiro faze dele para mim um bolo pequeno e traze-mo aqui fora; depois, farás para ti mesma e para teu filho. Porque assim diz o SENHOR, Deus de Israel: A farinha da tua panela não se acabará, e o azeite da tua botija não faltará, até ao dia em que o SENHOR fizer chover sobre a terra. Foi ela e fez segundo a palavra de Elias; assim, comeram ele, ela e a sua casa muitos dias (Reis 1, 17, 10-15).

"E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca; e muitos ricos lançavam muito. Vindo, porém, uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo. E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva lançou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro; porque todos ali deixaram do que lhes sobrava, mas esta, da sua pobreza, deixou tudo o que tinha, todo o seu sustento" (Marcos 12, 41-44).




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“No episódio do óbolo da viúva no Templo de Jerusalém, Jesus se mostrou, ainda uma vez, um Mestre admirável ao elogiar o gesto de uma pobre mulher, mostrando que seu donativo de pequeno valor estava acima de todas as outras ofertas daqueles  que depositaram vultosas  quantias.

Explicou então: “Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (Mc 12,44).. Não sabemos nada acerca desta mulher, nada sobre suas alegrias ou tristezas, nem das dificuldades para ajuntar as duas moedas. Sabemos somente que as viúvas da época de Jesus estavam entre as mais pobres do povo. Não tinham nenhum lugar garantido para morar, nem nenhuma fonte de renda.

Estavam destinadas praticamente à mendicidade. Entretanto, o que nos deve prender a atenção não é tanto a diferença entre a doação de uma daquelas viúvas e a dos outros, mas o significado daquele dom. Ela estava completamente sem recursos materiais, mas deu tudo que ela tinha para viver. Jesus se serviu do acontecimento para ensinar a seus seguidores a não julgar apenas pelo exterior. O Pai do Céu vê o que está secreto no íntimo do coração. Isto basta. Esta lição interpela a todos os cristãos que vivem o contexto atual onde o aparecer é que predomina. Tudo que se faz deve cair no conhecimento de todos.

A viúva do Evangelho, porém, é bem a imagem das pessoas muito simples que estão ao nosso lado sem que as vejamos. Na sua discrição passam despercebidas. Por isto, a caridade de muitos se transforma num espetáculo e os pequenos gestos de serviços são deixados de lado, a ajuda aos deserdados fica esquecida. O importante não é o quanto se doa, mas a intenção com que se oferta e a postura religiosa do ofertante.

O governo que arrecada trilhões através dos impostos vive apresentando na mídia suas realizações mirabolantes, enquanto milhares de brasileiros continuam na miséria, carentes de uma boa assistência para a saúde, lhes faltando tantas vezes o mínimo para sobreviver. Para cada cristão Jesus está a lembrar que cumpre aprender a viver sob o olhar de Deus que vislumbra globalmente os mais necessitados e também o motivo de toda e qualquer assistência, a razão de ser da esmola que é dada. Cristo questiona o critério da generosidade, mesmo porque, de um modo geral, muitos políticos nunca tiram de suas posses, mas daquilo que advém dos cofres públicos. O gesto espontâneo e gratuito não deve ser coisa devida ou a exigir contrapartida. Deve provir da fonte nobre do amor e da solidariedade sincera.

A pobre viúva ofertou o que tinha porque ela se doava a Deus, confiava em Deus a quem desejava honrar com aquela doação tão simples. Os que fazem ofertas com ostentação nada contam diante do Ser Supremo. Aliás, que vale uma esmola que não priva a pessoa de nada? No contexto histórico atual no qual impera a rentabilidade tudo isto merece ser refletido. É preciso que se combatam as visões egoísticas e interesseiras. Por força de vivermos num mundo onde tudo é contado, medido, calculado,  contabilizado, se acaba, sem querer, a julgar as coisas em função do peso que dá a economia, em função da influência que o poder exerce. 

O critério é a quantidade e não a reta intenção e, por isto, a pessoa  humana fica desvalorizada. As aparências, contudo, não impressionam a Deus, que olha o íntimo do coração. A qualidade do coração do que dá é que vele e não a quantidade e os motivos meramente humanos. Deus quer que assistamos o próximo não apenas com o supérfluo, mas, sobretudo, com aquilo que é fruto de sacrifício, de privação voluntária do que é inútil na vida de cada um. É preciso, portanto, isto sim, investir tendo em vista o Reino de Deus, o amor ao semelhante e a paz social. Jesus veio mudar as ideias habituais sobre o dom, sobre a riqueza e a pobreza. Alguém pode ter muitos bens e ser pobre de coração ou alguém pode  possuir pouco mais ter um coração rico.

O que vale não os valores terrenos, o conforto, o dinheiro, nem mesmo o que não se tem, a própria fragilidade, mas a postura de desambição, de desapego de tudo, valorizando-se apenas aquilo que esteja imbuído de um sincero amor a Deus e ao próximo. Isto leva à imitação cabal do Filho de Deus que ocultou até de sua divindade, levado pela dileção imensa por toda a humanidade. Ele conhece o fundo dos corações e as intenções de tudo que se faz”.

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho. Fonte: Arquidiocese de Mariana-MG (http://www.arqmariana.com.br/?p=24095).