terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A casa é sua



FELIZ ANO NOVO A TODO(A)S !!!

A lágrima fria corta a face direita, eu não lavo o chão para alguém ver; eu o lavo pra mim, meus olhos, pés. Gosto de sentir o frio limpo do contato de meus pés com o piso: posso me deitar ali se quiser. Não pinto as paredes para que alguém veja, para que alguém goste e elogie e queira comprar e sorrie, levantando os braços bem alto, batendo as mãos. Não, definitivamente. Corrijo as imperfeições das paredes porque as quero lisas para mim, para eu poder me recostar nelas, olhos perdidos no ar, longe nem sei de onde. A partir de mim é que me lanço. Eu sei que a casa é sua.




Vida Maria from Fernanda Guizan on Vimeo.


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Strong, strongly



FELIZ ANO NOVO !!

Começa assim o poema de Adélia [Prado]:

O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
Com seus olhos cediços,
Põe caco de vidro no muro
Para o amor desistir.
[...]

Chama-se “Corridinho” e é bonito.




domingo, 29 de dezembro de 2013

Quase choro...

Antigamente, todas as terças-feiras, por volta das 7 da noite, os sons daquela música chegavam, discretamente, até nossa casa. Pandeiro, violão, tamborim, cavaquinho, violino... Uma reunião de componentes de um aposentado clube de choro. Era fácil ouvi-los mesmo da cozinha ou da varanda, mas, para nosso perfeito deleite, pegávamos duas cadeiras e íamos nos sentar sob o limoeiro, bem do lado do muro. Em silêncio, de mãos dadas, olhando para nosso teto estrelado, participávamos, furtivamente, daqueles serões, do lindo chorinho daqueles velhos chorões.

Quero ir,
sem ter pra onde.
Só não quero ficar aqui.
Mesmo sem ter para onde,
quero ir.

Estou no pátio da biblioteca neste último domingo do ano cristão de 2013. Estou aqui desde as 6. A casa não me prende, os livros me chamam. Vi as luzes da cidade, uma a uma, serem apagadas e o sol não veio e resolvo, sob fina chuva, eu também, fazer minha listazinha de desejos para 2014, que aqui vai. Algumas coisinhas básicas eu peço e coloco nas mãos de Deus (saúde, paz, harmonia, perdão). Bem prosaicamente: quero parar de fumar. Que a palavra não me falte, mesmo ruim como sempre, e também não me falte a vontade de corrigi-la, corrigi-la e corrigi-la tantas e quantas vezes o dever pedir. Não quero cometer o mesmo erro de novo. Desejo ardentemente aprender a ouvir e ver sempre mais e melhor. Pela primeira de três vezes desejo a todos e a todas um FELIZ ANO NOVO. 



sábado, 28 de dezembro de 2013

Amo tanto...

Não jogo nada no lixo. Guardo coisas de meu avô e de minha avó ainda hoje. Aprendi a comer até o último grão de arroz no prato. Amo muito e tanto que, quando acaba, quero ir junto. Acabar-me com. Salvo tudo que posso, levo tudo pra casa e guardo. Comigo vai. Não sei para o que servirá, sua utililidade é própria de mim. Serve a algo que levo por dentro. Como se não fossem coisas exteriores. Não preciso de outra explicação. Tampinhas de garrafa na infância, selos dos correiros, carimbos, pregos, arames, livros, dores e amores demais. Não jogo nada no lixo.





sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Onde está o lampiãozinho?


Por onde andei
comigo foi meu pequeno lampião
(na verdade, um apontador de lápis).

Ontem, pensando nesta postagem,
procurei-o, insistentemente, até cansar.
Sem encontrar, contento-me em estar onde estou.

Foi me dado de presente,
um mimo, uma lembrança, que agora não sei onde está.
Mas sei que está! Sei o que é e significa: uma âncora contra as ondas fortes do mar.

___


“Tenho que pensar em mim mesmo tal como estão agora as coisas”.

(Goethe, em Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister).




quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Caminhozinhos...



Estrada no noroeste de Minas Gerais. Lá no fundo, o céu da Bahia.

Peço desculpas por tanto tempo sem atualizar esta página. Razões haveria mas, claro, todas, ou quase, desconheço.

Melhor mesmo é acreditar em bois voadores.
Não mamíferos...
  
Que a vida é uma viagem, já muito se disse. Não deixa de ser trabalho, posto que o ser não escapa considerar-se a si mesmo a partir do entorno social em que está inserido e, desse ponto de vista é que começa a atuar, a se formar. Qualquer grupo social estará, primeiro, em busca das condições mínimas de subsistência material, e envolve nesse esforço todos os seus membros. O teatro, muitas vezes, já o sabia o jovem Wilhelm Meister nas páginas brilhantes de Goethe, é espaço privilegiado para colocar em prática o ser e o parecer, livre das amarras e das imposições de classe. Mas a vida é viagem! 

Uma forma de viajar é a tradução, quando se concebe a formação como jogo entre o mesmo e o outro, o estranho, o estrangeiro. Não nos esqueçamos de que acessar uma língua estrangeira é acessar o outro e, como ocorre tantas vezes, reconhecermo-nos nele, ao menos em parte. Assim, se a vida é tradução, ainda é viagem. 

Como me ensinou o Prof. Mazzari, a palavra alemã bildung, tão ampla e de difícil tradução, está intimamente ligada à Paideia dos gregos e a humanitas latina. Aqui temos “imagem”, “formação”, “imitação”, e tudo isso no aspecto individual e coletivo, mas a dificuldade da tradução está relacionada a viagens difíceis. Uma das mais difíceis é a viagem ao outro. Traduzir do alto original, do divinal ou do mundo dos arquétipos, ou traduzir outro ser em nós mesmos, se é viagem difícil, faz, ainda mais, da vida uma emocionante viagem. 

Esta é a primeira de algumas das últimas postagens deste “espaço imaginário”, que nasceu em 27 de fevereiro de 2011, com o objetivo específico de acompanhar as angústias, medos e outros horrores durante a minha formação no curso de mestrado em literatura. O blogue nasceu das minhas necessidades de formação e esta viagem continua, mas encerra-se um ciclo. Terminou mas, fato estranho: eu estive sempre muito ligado a este “espaço”, agora o blogue me deixou sozinho. Creio que, no fim, a “culpa” seja mesmo minha: fiz nascer com “prazo de validade” este imagina2013. Já me sinto un pajarito o un caminito triste entre o amor e a saudade, essas duas insustentabilidades.

Imagem (primeira foto postada) e texto: Gilson.