quarta-feira, 2 de março de 2011

A Fenomenologia III - Bachelard

Bachelard (imagem de i12bent.tumbler.com)

Para Gaston Bachelard, em A Poética do Devaneio, os princípios da fenomenologia tratavam de "trazer à plena luz a tomada de consciência de uma sujeito maravilhado pelas imagens poéticas. Essa tomada de consciência, que a fenomenologia moderna quer acrescentar a todos os fenômenos da psique, parecia-nos atribuir um valor subjetivo durável a imagens que muitas vezes encerram apenas uma objetividade duvidosa, uma objetividade fugidia. Obrigando-nos a um retorno sistemático a nós mesmos, a um esforço de clareza na tomada de consciência a propósito de uma imagem dada por um poeta, o método fenomenológico leva-nos a tentar a comunicação com a consciência criante do poeta. A imagem poética nova - uma simples imagem! - torna-se, simplesmente, uma origem absoluta, uma origem de conciência. Nas horas de grandes achados, uma imagem poética pode ser o germe de um mundo, o germe de um universo imaginado diante do devaneio de um poeta". Mais adiante, na mesma obra: "limitamos nossas observações apenas a 'situações oníricas', procurando definir um pouco como o masculino e o feminino - principalmente o feminino - trabalham os nossos devaneios. Assim, tomaremos emprestada à psicologia das profundezas a maior parte dos nossos argumentos. Em diversas obras C.G Jung mostrou a existência de uma dualidade profunda da Psique humana. Colocou essa dualidade sob o duplo signo de um animus e de uma anima. Para ele, e para seus discípulos, há um todo psiquismo, seja o de um homem ou o de uma mulher, ora cooperando, ora se entrechocando, um animus e uma anima. (...) Queremos simplesmente mostrar que o devaneio, no seu estado mais simples, mais puro, pertence à anima. Certamente, toda esqumatização corre o risco de mutilar a realidade, mas ajuda a fixar perspectivas. Digamos, pois, que para nós, de um modo geral, o sonho noturno pertence ao animus e o devaneio à anima. O devaneio sem drama, sem acontecimento, sem história nos dá o verdadeiro repouso, o repouso do feminimo. Com ele ganhamos a doçura de viver. Doçura, lentidão, paz, eis a divisa do devaneio em anima. É no devaneio que se podem encontrar os elementos fundamentais para uma filosofia do repouso". Em outro texto, A Poética do espaço: "Em suma, quando se torna autônoma, uma arte assume um novo ponto de partida. É interessante então considerar esse início na mente de uma fenomenologia. Por princípio, a fenomenologia liquida um passado e encara a novidade. (...) Mas a vida da imagem está toda em sua fulgurância, no fato de que a imagem é uma superação de todos os dados da sensibilidade". Prometemos apenas estudar o que estiver na equação do possível e necessário. Ainda não temos o modelo. Por isso, amanhã tem mais e depois também.

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