domingo, 30 de setembro de 2012

De chuvas, ventos e curvas



Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas-MG (Foto: Imaginário)


Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas-MG (Foto: Imaginário)

Chuva forte.
  ̶ Liga, não: deve ser apenas o vento fazendo curva.
A lua cheia,
por exemplo,
só não é mais bonita que um queijo de Minas.
Um gosto?
Ah, um gosto vale mais que um caminhão cheio de abóboras.
  ̶ É o que sempre digo nessas horas, repetindo meu pai.
Agora eu mesmo:
um gosto é quase
amor, se chove forte.
Dizem ainda que, depois da curva,
é caminho novo, total.
É nisso que penso, às vezes.

___



"Ontem ao luar", Catulo da Paixão Cearense / Pedro Alcântara

Missa das onze e meia


Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas-MG (Foto: Imaginário)


26º Domingo do Tempo Comum
30 de setembro de 2012

“Ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós e a nosso favor” (Marcos 9, 39).




domingo, 23 de setembro de 2012

O fim e o depois


Matriz de Pirapora-MG (Foto: Imaginário)


“Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada – erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. Dor não dói até em criancinhas e bichos, e nos doidos – não dói sem precisar de se ter razão nem conhecimento? E as pessoas não nascem sempre? Ah, medo tenho não é de ver morte, mas de ver nascimento. Medo mistério. O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo. O inferno é um sem-fim que nem não se pode ver. Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo” (João Guimarães Rosa, em Grande sertão: veredas).



Missa das onze e meia


Matriz de Pirapora-MG (Foto: Imaginário)


25º Domingo do Tempo Comum
23 de setembro de 2012

“Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos” (Marcos 9, 35).


domingo, 16 de setembro de 2012

A intuição do instante


Às vezes olho para a água e reconheço nela meu primeiro espelho.

___

Para Riobaldo os rios não escorrem horizontalmente, mas crescem, como árvores, na vertical, à semelhança de um grande tronco. Suas margens são abismos, paredões, precipícios. Toda a matéria viva na terra “cresce” nessa mesma direção, em busca de luz. Por isso os “rios bonitos” são os que nascem no poente (na sombra) e caminham, não descendo, mas subindo em direção à luz, ao sol nascente. São orientados para o conhecimento. “Hora da palavra, hora de não dizer nada, fora da palavra, quando mais dentro aflora toda a palavra, rio”. O homem no meio do rio, como o "diabo na rua, no meio do redemoinho".
Aspas para JGR, via Riobaldo, e para Milton Nascimento.

___

“Observai-vos. Caímos num padrão de pensamento e de ação, no qual nos deixamos ficar por ser muito mais cômodo, pois já não temos necessidade de pensar; antes, talvez tenhamos refletido um pouco, mas agora não há mais necessidade de fazê-lo. Isso proporciona ao indivíduo uma enorme satisfação como fazê-lo pensar que está realizando um ótimo trabalho; ele não ousa questionar nada, porque isso é muito incômodo e perturbador. Não ousais questionar vossa religião, vossa comunidade, vossa crença, a estrutura social, o nacionalismo, a guerra; aceitai tudo; Observai-vos interiormente. Vede como sois indolentes. O caos atual é devido a vossa indolência, porque desististes de questionar, desististes de duvidar; porque aceitais” (Jiddu Krishnamurti).

___

“La science est la connaissance rationelle, discursive, toujours indirecte, une connaissance  par reflet. Cette intuition intelectuelle pure, sans laquelle Il n’y a pas de métaphysique vraie, ne doit d’ailleurs aucunement être assimillée à l’intuition don’t parlent certains philosophes contemporains, car celle-ci est, au contraire, infra-rationelle. Il y a  une intuition intelectuelle et une intuition sensible; l’une est au delà de la raison, mais l’autre est en deçà.; cette dernière ne peut saisir que le monde du changement et du devenir, c´est-à-dire la nature, ou plutôt un infime partie de la nature. Le domaine de l’intuition intelectuelle, au contraire, c´est le domaine des principles éternels et immuables, c´est le domaine métaphysique” (René Guenon, na Metafísica oriental).