domingo, 20 de março de 2011

Formalismo russo II

Viktor B. Chklovski

PRIMEIRA PARTE
A Problemática do formalismo I
A Arte como procedimento
CHKLOVSKI,Viktor Borisovich (1893-1984)
"Chamaremos objeto estético, no sentido próprio da palavra, os objetos criados através de procedimentos particulares, cujo objetivo é assegurar para estes objetos uma percepção estética. (...)
"A conclusão de Potebnia, que se poderia reduzir a uma equação, 'a poesia = a imagem', serviu de fundamento a toda teoria que afirma que a imagem = o símbolo, = a faculdade de a imagem tornar-se um predicado constante para sujeitos diferentes (...).
"Uma das razões que conduziram Potebnia a esta conclusão foi o fato de ele não distinguir a língua da poesia da língua da prosa. Graças a isso ele não percebeu que existem dois tipos de imagens: a imagem como um meio prático de pensar, meio de agrupar os objetos e a imagem poética, meio de reforçar a impressão (...).
"A imagem poética é um dos meios de criar uma impressão máxima.
"As leis de nosso discurso prosaico (...) se explicam pelo processo de automatização. É um processo onde a expressão ideal é a álgebra, ou onde os objetos são substituídos pelos símbolos. No discurso cotidiano rápido, as palavras não são pronunciadas; são apenas os primeiros sons do nome que aparecem na consciência.
"A automatização engole os objetos (...).
"E eis que para devolver a sensação de vida, para sentir os objetos, para provar que pedra é pedra, existe o que se chama arte. O objetivo da arte é dar a sensação do objeto como visão e não como reconhecimento; o procedimento da arte é o procedimento da singularização dos objetos e o procedimento que consiste em obscurecer a forma, aumentar a dificuldade e a duração da percepção. O ato de percepção em arte é um fim em si mesmo e deve ser prolongado; a arte é um meio de experimentar o devir do objeto, o que é já 'passado' não importa para a arte. (...)
"Tolstoi descreveu todas as batalhas de Guerra e Paz através deste procedimento. Todas são apresentadas como antes de tudo singulares. (...)
"(...) Após ter esclarecido o caráter deste procedimento, tentemos determinar aproximadamente os limites de sua aplicação. Pessoalmente, penso que quase sempre que há imagem, há singularização. Em outras palavras, a diferença entre o nosso ponto de vista e o de Potebnia pode ser formulado assim: a imagem não é um predicado constante para sujeitos variáveis. O objetivo da imagem não é tornar mais próxima de nossa compreensão a significação que ela traz, mas criar uma percepção particular do objeto, criar uma visão e não o seu reconhecimento. (...)
"Trato, no meu artigo, sobre a construção do enredo, da singularização no paralelismo psicológico.
"Repito, contudo aqui que o importante no paralelismo é a sensação de não-coincidência de uma semelhança. O objetivo do paralelismo, como em geral o objetivo da imagem, representa a transferência de um objeto de sua percepção habitual para uma esfera de nova percepção; há portanto uma mudança semântica específica. (...)
"As pessoas que pretendem  que a noção de economia das energias está constantemente presente na língua poética e que ela é mesmo a sua determinante, parecem à primeira vista, ter uma posição particularmente justificada no que diz respeito ao ritmo. A interpretação da função do ritmo dada por Spencer parece ser incontestável: 'os golpes recebidos irregularmente obrigam nossos músculos a manter uma tensão inútil, às vezes mesmo prejudicial, porque não prevemos a repetição do golpe; enquanto que, quando os golpes são regulares, economizamos nossas energias'. Esta noção, à primeira vista convincente, peca pelo vício habitual da confusão das leis da língua poética com as da língua prosaica. Spencer não vê nenhuma diferença entre elas na sua Filosofia de Estilo" V. Chklovski, 1917, Formalistas russos, p.39-56.

Registro a riqueza e exatidão dos exemplos dados por Chklovski no seu ensaio para os conceitos que apresentava. Anoto ainda grandes dificuldades de minha parte para apaziguar ou conciliar questionamentos e dúvidas sobre, especialmente, os conceitos de imagem (imagem poética; imagem-fábula; imagem-pensamento), os limites do procedimento de singularização, diferenças para o autor entre a língua cotidiana e a língua prosaica (narrativas). Questões que são fundamentais para o prosseguimento do meu estudo. Não posso deixar de mencionar, finalmente, que esse rapaz escrevia essas coisas antes dos 25 anos de idade.


Imagem: Google images

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