ARANDIR (sem se aproximar e estendendo as duas mãos crispadas):
- Coração, olha. No emprego e aqui na rua. Eu sei que aqui na rua. Ninguém acredita em mim. E, hoje, quando eu saí do emprego. Meu bem, escuta. Fiquei andando pela cidade. Tive a impressão de que todo mundo me olhava. No lotação, em todo lugar, eu acho que me reconheciam pelo retrato. Eu saltava de um lotação e apanhava outro. A mesma coisa. Eu então pensei - bem: mas eu tenho a Selminha! Escuta, Selminha, escuta! Eu quero sentir, saber, entende! Saber que você está comigo, a meu lado! Você é tudo que eu tenho!
(Selminha está chorando com o rosto cobertp por uma das mãos)
SELMINHA (soluçando):
- Oh, cala a boca!
(...)
NELSON RODRIGUES, em O beijo no asfalto.
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