quarta-feira, 23 de maio de 2012

Anotações II





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(Do velho Camilo) :

Ninguém sabe o que eu vi hoje,
debaixo de um alecrim :
duas pombinhas chorando
por um amor que não tem fim.

O bicho que tem no mato
O melhor é pássaro-preto
Todo vestido de luto,
Assim mesmo satisfeito.

O bicho que tem no campo
o melhor é sariema,
que parece com as meninas
Roxeando as cor morena.

O fogo quando se apaga,
na cinza deixa o calor;
o amor quando se apaga,
no coração deixa a dor.

Aí vem um rapazinho
Calça preta remendada.
É bestagem, rapazinho,
Que aqui não arranja nada.

Minha cabeça tá doendo,
Meu corpo doença tem.
Quem curar minha cabeça
cura meu corpo também.

Em cima daquela serra,
passa boi, passa boiada.
Também passa a moreninha
do cabelo cacheado”

(Camilo José dos Santos, 80 anos, para fora. Tinha uns 8 ou 10 anos, por ocasião da alforria do cativeiro. Nasceu no Riacho do Machado e acabou de criar em Inconfidência).

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . ."

NOTAS DA VIAGEM DE 1952.
Em A boiada, de João Guimarães Rosa. Nova Fronteira, 2011, p.40-41. (Ilustrações: Paulo Mendes da Rocha).

A Semana Roseana em Cordisburgo-MG neste ano, de 24 a 30 de junho, terá como tema justamente os 60 anos da realização da viagem de 1952, quando JGR acompanhou vaqueiros que levavam uma boiada.



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