“Um dos mal-entendidos que dominam a noção de biblioteca é o
facto de se pensar que se vai à biblioteca pedir um livro cujo
título se conhece. Na verdade acontece muitas vezes ir-se à
biblioteca porque se quer um livro cujo título se conhece, mas a
principal função da biblioteca, pelo menos a função da biblioteca
da minha casa ou da de qualquer amigo que possamos ir visitar,
é de descobrir livros de cuja existência não se suspeitava e que,
todavia, se revelam extremamente importantes para nós.
A função ideal de uma biblioteca é de ser um pouco como a loja
de um alfarrabista, algo onde se podem fazer verdadeiros
achados, e esta função só pode ser permitida por meio do livre
acesso aos corredores das estantes.
Se a biblioteca é, como pretende Borges, um modelo do
Universo, tentemos transformá-la num universo à medida do
homem e, volto a recordar, à medida do homem quer também
dizer alegre, com a possibilidade de se tomar um café, com a
possibilidade de dois estudantes numa tarde se sentarem num
maple e, não digo de se entregarem a um amplexo indecente,
mas de consumarem parte do seu flerte na biblioteca, enquanto
retiram ou voltam a pôr nas estantes alguns livros de interesse
científico, isto é, uma biblioteca onde apeteça ir, e que se vá
transformando gradualmente numa grande máquina de tempos
livres”.
Umberto Eco, em A biblioteca. Tradução: Maria Luísa Rodrigues de Freitas.
Gostei demais desse texto. Seguindo. Um abraço, Yayá.
ResponderExcluirSeja bem-vinda, Yayá!
ExcluirObrigado pela honrosa visita.
Um abraço. Muita Paz.
Gilson.