quinta-feira, 24 de maio de 2012

A biblioteca



 “Um dos mal-entendidos que dominam a noção de biblioteca é o 
facto  de  se  pensar  que  se  vai  à  biblioteca  pedir  um  livro  cujo 
título  se  conhece.  Na  verdade  acontece  muitas  vezes  ir-se  à 
biblioteca porque se quer um livro cujo título se conhece, mas a 
principal função da biblioteca, pelo menos a função da biblioteca 
da minha casa ou da de qualquer amigo que possamos ir visitar, 
é de descobrir livros de cuja existência não se suspeitava e que, 
todavia, se revelam extremamente importantes para nós. 
A função ideal de uma biblioteca é de ser um pouco como a loja 
de  um  alfarrabista,  algo  onde  se  podem  fazer  verdadeiros 
achados, e esta função só pode ser permitida por meio do livre 
acesso aos corredores das estantes. 
Se  a  biblioteca  é,  como  pretende  Borges,  um  modelo  do 
Universo,  tentemos  transformá-la  num  universo  à  medida  do 
homem  e,  volto  a  recordar,  à  medida  do  homem  quer  também 
dizer  alegre,  com  a  possibilidade  de  se  tomar  um  café,  com  a 
possibilidade  de  dois  estudantes  numa  tarde  se  sentarem  num 
maple  e,  não  digo  de  se  entregarem  a  um  amplexo  indecente, 
mas  de  consumarem  parte  do  seu  flerte  na  biblioteca,  enquanto 
retiram ou voltam  a pôr nas estantes alguns livros de interesse 
científico,  isto  é,  uma  biblioteca  onde  apeteça  ir,  e  que  se  vá 
transformando  gradualmente  numa  grande  máquina  de  tempos 
livres”.

Umberto Eco, em A biblioteca. Tradução: Maria Luísa Rodrigues de Freitas.

2 comentários:

  1. Gostei demais desse texto. Seguindo. Um abraço, Yayá.

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    1. Seja bem-vinda, Yayá!
      Obrigado pela honrosa visita.
      Um abraço. Muita Paz.
      Gilson.

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