quarta-feira, 9 de maio de 2012

Cartesianismos



Bueno, ha llegado el momento.

Meu texto não pode mais ser como eu gostaria que fosse.  Terá, doravante, que adotar a sintaxe acadêmica, que sempre repudiei. Essa minha postura de repúdio me veio desde muy temprano, como se tivesse representado para mim o estudo de anatomia, pelo qual jamais tive o menor interesse. Nem mesmo se me falassem de uma anatomia da alma. São coisas que não devem ser feitas, fora de seu campo próprio. Dissecar corpos ou almas equivale a profanações. Texto é espaço sagrado, como sagrada é a fonte comum da linguagem e do mito.

Por isso também não quis ser periodista, ser que deve desaparecer não para que o texto apareça, pois que este também deve desaparecer para o “fato” apareça. A pois: que me importa o fato... Não há fatos, mas formas de mostrar ou contar supostos acontecimentos. Um texto é algo que se interpõe, necessariamente – é bom que se diga – entre as supostas coisas e o que elas significam para uma pessoa. Sem se esquecer jamais de que o que essa pessoa é, não é mais que uma possibilidade dada pelo imaginário que a acompanhou enquanto viu, ouviu, sentiu e escreveu na vida.

Está claro que não separo o escritor do texto que ele produziu. São, na verdade, uma mesma entidade, que se revela em fragmentos. O grande escritor será o seu estilo, o seu texto, definidor, inclusive, de seu caráter. Segurando-me pelo braço, minha orientadora, olhando-me com olhinhos firmes, exige de mim: “Não perca seu texto, escreva para a academia, mas defenda-se, mesmo de mim, o caráter do seu texto”.  Palavras difíceis de entender. Uma escola de arte, posto que de Literatura, querendo que seus alunos produzam textos iguais aos que são redigidos na biologia. Método, forma e função. Quando me pedirem modelos econométricos, aí então desisto.

Por hora, continuarei tentando, na certeza – minha – de que pouco mais, talvez, pudesse mesmo fazer, além de não profanar. 

Crédito da imagem: www.fotoplus.com.


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