terça-feira, 24 de julho de 2012

Luto e melancolia II



Quantas palavras me saem da necessidade
Tão minha de dizer o que não consigo calar!

Quantas me saem pelas metades nos sons e
Na sintaxe, facilmente ininteligível e seca!

Quantas vezes, noites inteiras, sonhei aqui,
Imaginando estar ajudando-a a ler o texto.

Sei ler? Talvez. Escrever me escapa, voa...
Perdem-se as palavras no berço da recepção.

Sei que ainda queria estar aí, com você,
Traduzindo um texto impossível.

Mas sinto que queria estar longe, na praia distante,
Ouvindo um coração que também sente a ausência.

Você não acredita mais em nós, você definiu
Muitas vezes o fim do casal. Que eu insisti existir.

Mas depois de tanto tempo uma brisa de mar,
me anima a sentir desejos de braços não seus.

Quantas dores vive tanta gente. Quantas!
Aprendi a ver almas. A senti-las e sofrer.

Aprendi a caminhar em meio a espinhos,
Reconhecendo raros e preciosos lírios...

Que não se deviam perder por nada.
São pedaços de mim mesmo que procuro encontrar.

O enlutado não sabe exatamente o que perdeu.
O melancólico sabe muito bem que perdeu seu próprio eu.

___

“Estudar a separação amorosa significa estudar a presença da morte em nossa vida. A ruptura amorosa corresponde a um sentimento equivalente a assistir a própria morte” (IGOR CARUSO).

3 comentários:

  1. Não vou referir nada. Está tudo, sobretudo no 'pos scriptum'

    Por experiência própria, não te deixes ficar submerso. Há sempre uma terra firme e o sol...para além do mar onde naufragámos.

    Beijo

    Laura

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    1. Oh, Laura, falei mesmo muito, talvez demais. Acho que tudo que me veio às mãos digitei. E você sempre, mesmo discreta e contida, apontando o caminho: que é o próprio caminhar. Também não queria acrestar nada ao seu comentário. Recebo-o como água fresca na cara em dias quentes.
      Gostaria que esta resposta fosse apenas "obrigado, Laura".
      Beijo.
      Gilson.

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  2. E há quem diga que essa morte é apenas orgulho ferido. No fundo, após um sofrimento desesperador vem uma dor que aos poucos passa a ter apenas gosto de saudades de um tempo bom. Novas janelas se abrem, às vezes portas se escancaram e o coração deixa entrar novas emoções. Basta ter paciência e acima de tudo permitir-se ressuscitar ...

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