sábado, 28 de janeiro de 2012

Os caminhos da Sombra I


Eu tenho duas sombras, como já informei aqui. A minha, a própria, que corresponde àquela que todos têm (a não ser que, como eu disse, a tenham vendido ao diabo) e outra, que veio morar comigo há sete meses. Uma cadelinha SRD (Sem Raça Definida) que escolhi num abrigo para cães destinados à adoção. O nome Sombra ela já possuía, dado por mim, mesmo antes de encontrá-la. Essa é a Sombra Viva.

Há meses, todos os dias nós dois percorremos a pé alguns metros nos arredores, passeio que marquei com ela para algo em torno das 18h30, todos os dias. Não sei se por ansiedade ou o quê, ela começa a me cobrar essa pernada já pouco antes das 17. Também não sei é ela que passeia comigo ou se é o contrário: ela é quem me leva. O fato é que existem o que passarei a chamar aqui “os caminhos da Sombra”.

Nesses caminhos da Sombra, muitas coisas podem ser vistas e que passariam absolutamente ignoradas em outras situações. Primeiro, pelo fato de os cães se guiarem por outros sentidos, em busca de outros sabores e cheiros para a vida (deles); segundo, porque nós mesmos passamos a observar coisas e fatos que talvez jamais víssemos, ainda que passássemos pelo mesmo lugar mil vezes.

Um primeiro exemplo: num canto de muro a coruja buraqueira vigia seu ninho. Certamente guiada pelo pio da mãe nervosa, Sombra me leva até lá. As corujas não costumam se preocupar muito em montar seus ninhos em lugares de difícil acesso, muito escondidos etc. Às vezes os encontramos bem ao lado do trilho por onde passam todos. Vigiar, sim, isso é traço da personalidade e do caráter da coruja, e vigiar com olhos bem abertos e, quando necessários, gritos esganiçados. Pois a Sombra me levou até as proximidades desse canto de muro onde essa senhora cuidadosa vigiava sua prole (ou esse senhor, isso depende do nível em que estão os "trabalhos": antes de os filhotes nascerem, o trabalho de polícia é do pai; depois, da mãe). O que me chamou a atenção foi a segurança do lugar: o velho muro tem cerca elétrica, avisos de “perigo” e tudo. Não quis me aproximar mais, para não arrumar confusão.

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