quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Cultura e civilização

Mestre Antonio Candido e as dificuldades de conciliar o marxismo com formas culturais. Talvez Câmara Cascudo ajudasse. Gostaria que meus estudos passassem longe desses meios pelos quais as sociedades se organizam para produzir. Marx quer História; eu quero Memória, Imaginação... E esquecimento. Eu cancelo tudo (Marx, Habermas, Nietzsche) e volto a Hegel. Concordo que alguma coisa de Nietzsche ainda preciso resolver.

“Continuando, para argumentar, nesta linha simplificadora, veremos que para cada sociedade, num determinado momento, há uma equação necessária entre o ajuste ao meio e a organização social. Nas sociedades civilizadas, de grnde volume demográfico, há tantas subequações quantos grupos diferenciados pelo gênero de vida – pois há um ajustamento do camponês e outro do citadino; do rico e do pobre; do lavrador e do criador, etc.

Estas equações exprimem, no tocante à subsistência, as fórmulas de equilíbrio grupal – que pode ser estável ou instável, satisfatório ou insatisfatório, com referência ao equilíbrio ótimo permitido pelas condições gerais da cultura.

De qualquer modo, há para cada cultura, em cada momento, certos mínimos abaixo dos quais não se pode falar em equilíbrio. Mínimos vitais de alimentação e abrigo, mínimos sociais de organização para obtê-los e garantir a regularidade das relações humanas. Formulado nesses termos, o equilíbrio social depende duma equação entre o mínimo social e o mínimo vital.

Seria porém difícil, sem larga margem de arbítrio e etnocentrismo, falar em mínimo cultural, visto como, nos casos para nós mais rudimentares, a cultura pode significar, pelo simples fato de existir, uma solução coerente de sociabilidade e equipamento material em relação ao meio. Os umutinas atravessavam rios a nado ou a vau, até que índios mansos presentearam-nos com canoas, antes desconhecidas por eles e logo utilizadas com evidente melhoria das condições de transporte e portanto mobilidade. Poder-se-á no entanto dizer que a fase anterior representava nível cultural mais baixo e que a canoa veio significar a sua elevação? Seria discutível, tomando-se a cultura como um todo funcionando em conjunto orgânico. No momento, porém, em que os umutinas fossem realmente incorporados à esfera de influência cultural do branco, a sua vida passaria a ser avaliada em função de padrões definidos por esta; e, neste caso, sem dúvida a canoa representaria adaptação mais satisfatória ao meio, embora esta nova fase não possa ser comparada valorativamente à situação anterior, em que a cultura existia na pureza do seu isolamento e da integração coerente dos seus traços”

(CANDIDO, Antonio. Os parceiros do Rio Bonito: um estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. São Paulo: Editora 34, p.25-26)

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