segunda-feira, 2 de abril de 2012

O Homem é o sozinho?



Ele próprio, Riobaldo, sofre, muito em função da velhice talvez, mas principalmente pelas características de funcionamento mesmo da memória. O que parece evidente é que os acontecimentos realmente fazem “balancê” ao se verem intimados a voltar à cena. Por duas formas: de um lado, o mais antigo, por descuido ou alguma razão que a própria razão desconhece, “vem para a frente”, como se fosse fato recente; de outro, o inconsciente “vaza” para a parte consciente e trai ou subverte o controle do ego. Como parece ser bem o caso de Diadorim, a “neblina”. Cada vez que Riobaldo, nas primeiras cem páginas do livro ou na manhã do primeiro dia, começa a alinhavar sua estória, a construir sua rede, Diadorim “aparece”, como que do nada. Claro que não: trata-se de uma intimação inconsciente, um descontrole, com que o narrador tenta equilibrar e que o autor administra imagino que às grandes felicidades.

"(...) Digo ao senhor: naquele dia eu tardava, no meio de sozinha travessia.

Ah, mas falo falso. O senhor sente? Desmente? Eu desminto. Contar é muito, muito dificultoso. Não pelos anos que se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas – de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. O que eu falei foi exato? Foi. Mas teria sido? Agora, acho que nem não” (Riobaldo, no GS:V).

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