CARTA AOS INCONFIDENTES MORTOS
Treva da noite,
lanosa capa
nos ombros curvos
dos altos montes
aglomerados...
Agora, tudo
jaz em silêncio:
amor, inveja,
ódio, inocência,
no imenso tempo
se estão lavando...
lanosa capa
nos ombros curvos
dos altos montes
aglomerados...
Agora, tudo
jaz em silêncio:
amor, inveja,
ódio, inocência,
no imenso tempo
se estão lavando...
Grosso cascalho
da humana vida...
(e covardias!)
vão dando voltas
no imenso tempo -
à água implacável
do tempo imenso,
rodando soltos,
com sua rude
miséria exposta...
Parada noite,
suspensa em bruma:
não, não se avistam
os fundos leitos...
Negros orgulhos,
Mas, no horizonte
ingênua audácia
do que é memória
e fingimentos
da eternidade,
e covardias
referve o embate
de antigas horas,
de homens antigos.
E aqui ficamos todos contritos,
a ouvir na névoa
o desconforme,
submerso curso
dessa torrente do purgatório...
Quais os que tombam,
em crimes exaustos,
quais os que sobem,
purificados?
Negros orgulhos,
Mas, no horizonte
ingênua audácia
do que é memória
e fingimentos
da eternidade,
e covardias
referve o embate
de antigas horas,
de homens antigos.
E aqui ficamos todos contritos,
a ouvir na névoa
o desconforme,
submerso curso
dessa torrente do purgatório...
Quais os que tombam,
em crimes exaustos,
quais os que sobem,
purificados?
CECÍLIA MEIRELES, no Romanceiro da Inconfidência, “Carta aos inconfidentes mortos”.
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