Ilustração de Poty para Magma |
João Guimarães Rosa terá
publicado muita coisa sob pseudônimos, ou até heterônimos, como defende e
demonstra belo estudo de Walnice Nogueira Galvão (A heteronímia em João Guimarães Rosa). Creio que era a persona dele
mesmo a que ele mais "escondia", por ação deliberada de não querer ver sua obra diretamente veiculada à forma explícita da
poesia, o que poderia trazer muito mais complicações estéticas. A sua própria
avaliação era a de os seus poemas não valiam muito a pena, apesar de “não serem
de todo ruins”. Não eram mesmo, pois, antes mesmo de publicar coisa alguma, o
autor ganhou, ainda muito jovem e sob pseudônimo, o primeiro lugar num concurso
de poesia promovido pela Academia Brasileira de Letras. Nunca quis publicar
esses textos em livro, o que a família fez, muito tempo depois de sua morte (o
livro de chama Magma). O que me
parece mais provável é que o prosador era mais um esconderijo do poeta João Guimarães
Rosa.
Anoto a seguir um dos vários textos
publicados em jornais e revistas e que, depois, também foram reunidos e publicados
postumamente, neste caso em Ave, Palavra:
“QUANDO COISAS DE POESIA
SE LHE NÃO FIRO A MODÉSTIA,
direi, aqui, depressa, que SÁ ARAÚJO SÉGRIM, em geral agradou. Por isso mesmo,
volta, hoje, com novos poemas, que só não sei se escolhemos bem. Sendo coisas
mui sentidas. Sendo o que ele não sabe da vida. Digam-me, amanhã. Leiam-no, porém.
ÁRIA
Em meio ao som da cachoeira
hei-de ouvir-me, a vida inteira
dar teu nome.
Tudo o mais levam as águas,
mágoas vagas (ou sagas)
para a foz.
Vida que o viver consome.
Um rio, e, do rio à beira,
tua imagem. Minha voz.
A cachoeira
diz teu nome.
QUERÊNCIA
Um vaga-lume
muge
na noite e distância
de uma chuva que estiou, chuvinha,
de uma porteira que bate, que
range e que bate,
de um cheiro de únicos úmidos
verdes inventos
de amigas árvores, agradadas,
de um marulho de richo, de muitos
e matinais pássaros,
de uma
esperança-e-vida-e-velhice e
morte
que faz em mim.
ESCÓLIO
O que sei não me serve.
Decoro o que não sei.
Relembro-me:
deslumbro-me, desprezo-me.
O querubim é um dragão
suas asas não se acabam.
sempre ele me acha em falta
ou no remorso de tanta lucidez.
Somos, anciãos, juntos,
do nada –
que é humano e nos envolve.
A gente tem de tirar dele
algo, pedaço de alto:
alma, amor, praga (ou lágrima) ou
poema.
TORNAMENTO
I
A viagem dos teus cabelos –
estes cabelos povoariam legião de
poemas
e as borboletas circulam
indagando tua cintura,
incertamente. Teu corpo em
movimento
detém uma significação de
perfume.
o som de um violino conseguiria
dissolver
um copo de ouro?
II
Houve reis que construíram seus
nomes milenários
e poetas que governam palácios em
caminhos.
Povos. Proêmios. Penas.
Mas toda você, um gosto só,
matar-me-ia a sede
e teus péus e rosas.
III
Às vezes – o destino não se
esquece –
as grades estão abertas,
as almas estão despertas:
às vezes,
quando quanda,
quando à hora,
quando os deuses,
– os entes –
a gente
se encontra.”
JOÃO GUIMARÃES ROSA, em Ave, Palavra.
Ciao,
ResponderExcluirci ho messo tanta buona volontà...ma per me è troppo difficile capire il senso reale, percepisco parole singole che nuotano nelle frasi, ma niente di più...
Ne approfitto per salutarti: ciao, ciao, Floriana
Ciao, Floriana.
ExcluirJoão Guimarães Rosa ha detto uno giorno: "il mio miglior traduttore è Edoardo Bizarri. Chi vuole capire miei testi dovrà leggere in italiano". It is really very difficult even in portuguese. Sorry... But I am so happy for your visiting. Thank you, I hope you coming back soon.
Grazie. Ciao.
Gilson.
OI GILSOSN!
ResponderExcluirCOLOCAR AQUI, ESCRITOS DE GUIMARÃES ROSA, É NOS PROPORCIONAR UM DELEITE PARA A ALMA...
ABRÇS
zilanicelia.blogspot.com.br/
Click AQUI
O, Lani!
ExcluirDeleite, sim, mas também mistério e dificuldade. Ele é meu objeto de pesquisa e, também por isso, aparece muito aqui. Fico feliz em saber que compartilha esse gosto. Obrigado pela visita e o simpático comentário.
Abraço.
Gilson.