domingo, 10 de junho de 2012

O "homem humano" V - Medeiro Vaz


 “Montante, o mais supro, mais sério – foi Medeiro Vaz. (...) Medeiro Vaz, em lugares assim, fora de guerra, prazer dele era dormir com camisolão e barrete; antes de se deitar, ajoelhava e rezava o terço. (...) Medeiro Vaz, nunca perdia guerreiro. Medeiro Vaz era homem sobre o sisudo, nos usos formado, não gastava as palavras. Nunca relatava antes o projeto que tivesse, que marchas se ia amanhecer para dar. Também, tudo nele decidia a confiança de obediência. Ossoso, com a nuca enorme, cabeçona meia baixa, ele era dono do dia e da noite – que quase não dormia mais: sempre se levantava no meio das estrelas, percorria o arredor, vagaroso, em passos, calçado com suas boas botas de caititu, tão antigas. Se ele em honrado juízo achasse que estava certo, Medeiro Vaz era solene de guardar o rosário na algibeira, se traçar o sinal-da-cruz e dar firme ordem para se matar uma a uma as mil pessoas. Desde o começo, eu apreciei aquela fortaleza de outro homem: o segredo dele era de pedra”.

Riobaldo, em Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa.

Medeiro Vaz morreu sob chuva torrencial, protegido pelos couros erguidos pelos jagunços. Antes do último suspiro, indica Riobaldo para liderar o bando.


4 comentários:

  1. Apreciei conhecer este homem que de certa forma nos faz reflectir sobre a nossa condição humana.

    Abr./Paula

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    1. Obrigado, Paula, pela visita e o sempre simpático comentário. Medeiro Vaz é um dos seis grandes chefes. Agora só falta o Riobaldo Tatarana, que nos conta a estória, para fechar o hexagrama.
      Grande abraço e ótima semana.
      Gilson.

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    1. Obrigado pela honrosa visita, Fernando.
      Grande abraço.
      Gilson.

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