quinta-feira, 8 de março de 2012

Fiéis do Amor II


“Se os olhos veem com amor, o corvo é branco; se com ódio, o cisne é negro”.
(Padre Antônio Vieira)

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“Tem um não em todo sim, e as pessoas são muito variadas”.
(João Guimarães Rosa)

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Se eu tivesse vivido na passagem do século XVII para o XVIII, ou na segunda metade do primeiro, juro por Deus que eu não perderia uma única missa do Padre Antônio Vieira. Aquele mesmo, variável, capaz da manobra mais arriscada com a palavra, sem se afastar jamais da linha que o conduziria exatamente ao que queria dizer desde o início. Homem reto por linhas tortas ou torto por linhas retas. Homem barroco, em que de tudo se pode ver um pouco. Depende dos olhos de quem observa e analisa. Padre Antônio Vieira era pactário? Com quem fez o pacto? Com o Rei decadente e infértil? Com o Reino na terra ou no Céu? Com a máquina mercante? Vieira precisa ser alcançado na dimensão das relações que viveu. Somente naquelas tensões se pode vislumbrar sua altura. Eu teria ido a todas as missas, mesmo que saísse mais cedo em algumas delas. Homem furiável, como o tempo presente?

É preciso compreender que a Idade Média está inteira, completamente toda, no Século das Luzes, no que veio depois e mesmo hoje, agora mesmo. Digo, reproduzindo: presente furiável, que se infiltra e fica. O suposto obscurantismo do medievo é ideia do iluminismo. Claro! Para que eu me afirme como Luz, preciso dizer que a sombra não está comigo. Para ter Razão chamo de louca a imaginação. Lembro-me da reação de Macunaíma, no centro de São Paulo, ao ouvir contarem um fragmento da história do Brasil: “Não é, não!”, ele disse. Porque contavam negando-o, preto retinto, filho da noite. Lógica inaceitável. Os tempos estão todos num só, e as cores também.

Como pode: a mãe ser filha do próprio filho? Maria é. Mulher.

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“Vergine Madre, figlia del tuo figlio,
umile e alta piú che creatura,
termine fisso d´etterno consiglio;

Tu se´colei che l´umana natura
nobilitasti si, che ´l suo fattore
non disdegnò di farsi sua fatura.

Nel ventre tuo si raccese l´amore,
per ló cui caldo ne l´etterna pace
cosi è germinato questa fiore”.

(Dante ALIGHIERI, Commedia, PAR XXXIII, 1-9)


Um comentário:

  1. A filosofia, não é mais que a imagem do que é. Assim, facilmente se depreenderá que não fará qualquer sentido referirmos-nos à imagem do que é, sem o que é. No mesmo raciocínio nos parece claro, que o que é sem uma relação formal e heróica com a sua imagem, já não se poderia chamar Ser, mas sim a sua própria negação, o que repugna.
    Quanto ao filósofo, e em termos populares, inequivocamente, este será aquele que deseja a filosofia.
    Obviamente, não deseja a filosofia para a possuir, a menos que seja para efeitos saturninos de celebração da ilusão. O filósofo deseja a filosofia, para sentir o sublime prazer de lhe fazer companhia.

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