quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Revisão II

Margem esquerda do médio São Francisco


Apenas mais um alerta:

“(...) Como os processos de construção das identidades são dinâmicos, deferentes gerações de intelectuais regionais podem produzir diferentes discursos ‘retificadores’ da imagem da região sobre uma matriz supostamente original, gerando várias camadas simbólicas, à maneira dos mitos. A ideia de sertão é um exemplo privilegiado dessa construção.

A etimologia da palavra sertão – sartaão, certão – usada pelos navegantes portugueses para designar o interior da África e do Brasil, em oposição ao mar e ao litoral, aponta para um lugar distante, vazio, isolado, inóspito, desconhecido, e subsequentemente, rude, atrasado, decadente e inferior.  A essa desvalorização simbólica dos espaços do sertão, viria se juntar, ainda nos primeiros momentos do processo de construção do território brasileiro, a dimensão positiva de vazio a ser conquistado e ocupado, referente de grandeza de nosso patrimônio geográfico.

Mais contemporaneamente, a definição negativa de sertão passa a medir o descompasso entre formas de organização social e de cultura expresso na noção de atraso , enquanto que a dimensão positiva incorpora a fronteira interna como lugar de encontro do impulso civilizador com os valores autênticos da nacionalidade. É com esse último sentido que ganham força mobilizadora, por exemplo, as utopias nacionalistas que pretendem combinar harmoniosamente os valores civilizatórios e os valores de brasilidade.

Voltando à construção da categoria sertão, vários dos traços considerados das regiões brasileiras localizadas no interior do país foram fixados pelo olhar  e pela pena dos viajantes europeus que aqui estiveram no século XIX. Segundo Flora Süssekind (1990, p.20), a prosa não ficcional de viagens e o paisagismo foram os dois gêneros presentes na ‘figuração inicial do narrador de ficção na produção literária da primeira metade do século XIX’. Através desse diálogo com o relato de viagem e o paisagismo, nossa narrativa surge marcadda pela descrição produzida a partir de um ponto de mira fixo e exterior, indicador de distância e desenraizamento”, Selma Sena em  Interpretações dualistas do Brasil (2003).

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