sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Fronteiras e ressonâncias


O que me parece mais pertinente a esta altura, é estudar as possíveis imbricações e interferências do imaginário de uma cultura em outra(s). A imagem que se me impõe é aquela da mulher sentada no batente da porta de sua (dela) casa. Não em qualquer porta, mas justamente aquela que dá para a rua.  Essa porta, se é um limite para o ambiente doméstico, é, ao mesmo tempo aquilo que permite acessar o universo público. Se penso numa mulher, posso pensar também que sua porta a separa e une a um homem em particular (geralmente pai ou marido), aos outros homens, agora indistintamente. As fronteiras, convencionalmente fixadas, estabelecem falsos limites, difíceis de sustentar. O próprio conceito de fronteira é um limite: uma linha, imaginada ou fisicamente demarcada, com pretenções de separação, mas se esquecendo de que é ela mesma que impõ a proximidade do estranho, do que se quer separado. A fronteira, querendo separar, coloca o outro mais perto do mesmo ou, dito de outra forma, denuncia a proximidade do diferente. Haverá casos em o outro é de fato o mesmo. O que faz diferentes o Ocidente e o Oriente? O que do Oriente permanece no Ocidente, de forma ostensiva ou, o mais comum, de forma velada ou ideologicamente dissimulada ou negada? Estou pensando muito mais numa espécie de raciocínio da gradação do que da separação. É possível pensar no imginário da renascença, mas dentro dele convivem níveis ou camadas culturais, sempre com discursos disponíveis, dos quais um deles terá voz privilegiada, ou local de fala hegemônico. Esse discurso silenciará os demais e fará isso por diversos meios. Poderia dizer que no interior do discurso hegemônico sobre o que é o Brasil há inúmeros outros discursos silenciados, que também poderiam dizer o que é o Brasil. De fato dizem, mas subalternizados, periféricos ou marginalizados. Imagino essa possibilidade para seja válida para todas as construções dos chamados estados nacionais, um dos resultados do imaginário da renascença. Assim, poderíamos ter múltiplos discursos que diriam melhor qual é a forma e a substância de Espanha, Alemanha, Austrália, Estados Unidos. Voltando ao tema das camadas de ressonâncias ou das imbicações dos discursos, eu poderia pensar na Andalucía, na Galícia, na Cataluña. Para o Brasil, imaginaria as diversas configurações do Sul, e aí a Serra Gaúcha, os Pampas; os grandes centros urbanos, multidiferenciados. Essa perspectiva teria que encontrar o traço, talvez possível, de união desses imaginários, e que fosse capaz, para além dos interesses meramente políticos ou econômicos, que as pessoas de um lugar ou outro se dissesse pertencer a esses lugares, reconhecerem que estão ali suas raízes mais profundas. O seu verso e a sua rima, no ritmo e na harmonia de suas vidas.

Imagem: Google images: www.academia.org.br

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