domingo, 21 de agosto de 2011

Missa das onze e meia


A Assunção de Maria. O tempo e a vida.

"Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. Então apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo. Tinha sete cabeças e dez chifres e, sobre as cabeças, sete coroas. Com a cauda, varria a terça parte das estrelas do céu, atirando-as sobre a terra. o Dragão parou diante da Mulher que estava para dar à luz, pronto para devorar o seu filho, logo que nascesse". Apocalipse, João (12,1-4).

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“E quando a morte e o tempo forem recusados ou combatidos em nome de um desejo polêmico de eternidade, a carne sob todas as suas formas, especialmente a carne menstrual que a feminilidade é, será temida e reprovada como aliada secreta da temporalidade e da morte”, Gilbert Durand, em As Estruturas antropológicas do imaginário, p.121. 

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Os chifres são de Úranos (O Céu, que chove e fecunda), em luta contra Cronos (o Tempo), que por fim, e por ordem de sua mãe Géia (Gaia, a Terra), imporá a ordem do ciclo vital, do círculo pemporal. João talvez estivesse pensando no Sol como representativo da luz da vida, vendo na noite (a Lua que está sob os pés da mulher) o símbolo da morte. É tradição muito antiga esse entendimento, comum a muitos povos anteriores aos gregos, que o sintetizaram na narrativa da hierogamia (hieros gamos = casamento sagrado) e na grande produtividade da relação entre Gaia (Terra) e Urano (Céu). Junito Brandão, Mitologia grega Vol 1. p.195.

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Esta é uma relação, contudo, pouco humanizada da história.  Acontece que no nível do simbólico e do imaginário,  muito mais representativo desta circularidade do tempo é a Lua, que nasce, morre, renasce e torna a morrer... Tanto que é o Dragão que tem o fogo na cor, fogo inimigo da água, fonte de toda a imaginação da matéria (Gaston Bachelard), valeria dizer de toda a vida. "Os filhos chegam como água", como disse uma vez uma personagem de Lorca.

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“A Lua (...) é um astro que cresce, decresce e desaparece, um astro cuja vida está submetida à lei universal do devir, do nascimento e da morte. Da mesma forma que o homem, a Lua tem uma 'história' patética, porque a sua decrepitude, como a daquele, termina na morte. Durante três noites o céu estrelado fica sem lua. Mas esta 'morte' é seguida de um renascimento: a 'lua nova'. O desaparecimento da Lua na obscuridade, na 'morte', nunca é definitivo. Segundo um hino babilônico dirigido a Sin, a Lua é 'um fruto que cresce por si mesmo'. Ela renasce da sua própria substância, em virtude do seu próprio destino. "Este eterno retorno às suas formas iniciais, esta periodicidade sem fim, fazem com que a Lua seja, por excelência, o astro dos ritmos da vida”. Mircea Eliade, em Tratado de história das religiões, p.127.

2 comentários:

  1. obrigada pela visita e comentário!Que seu espaço floresça em Graça e Sabedoria...

    Shalom

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  2. Sou eu que, humildemente, agradeço tão honrosa visita. Volte sempre, se este espaço se pretende imaginário, é mesmo de sempre. Na Graça sei que vivo; Sabedoria, isso já são outras favas... Busco catar os fragmentos dela pelo caminho. Abraço. Gilson.

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