terça-feira, 24 de maio de 2011

Imaginação da matéria


"Quando começamos a meditar sobre a noção de beleza da matéria, ficamos imediatamente impressionados com a carência da causa material na filosofia estética. Pareceu-nos, em particular, que se subestimava o poder individualizante da matéria. Por que se associa sempre a noção de indivíduo à de forma? Não haverá uma individualidade em profundidade que faz com que a matéria seja, em suas menores parcelas, sempre uma totalidade? Meditada em sua perspectiva de profundidade, uma matéria é precisamente o princípio que pode se desinteressar das formas. Não é o simples déficit de uma atividade formal. Continua sendo ela mesma, a despeito de qualquer deformação, de qualquer fragmentação. A matéria, aliás, se deixa valorizar em dois sentidos: no sentido do aprofundamento e no sentido do impulso. No sentido do aprofundamento, ela aparece como insondável, como um mistério. No sentido do impulso, surge como uma forma inexaurível, como um milagre. Em ambos os casos, a meditação de uma matéria educa uma imaginação aberta.
"Só quando tivermos estudado as formas, atribuindo-as à sua exata matéria, é que poderemos considerar uma doutrina completa da imaginação humana. Poderemos então perceber que a imagem é uma planta que necessita de terra e de céu, de substância e de forma. As imagens encontradas pelos homens evoluem lentamente, com dificuldade, e compreende-se a profunda observação de Jacques Bousquet: 'Uma imagem custa tanto trabalho à humanidade quanto uma característica nova à planta'. Muitas imagens esboçadas não podem viver porque são meros jogos formais, porque não estão realmente adaptadas à matéria que devem ornamentar.
"Acreditamos, pois, que uma doutrina filosófica da imaginação deve antes de tudo estudar as relações da causalidade material com a causalidade formal. Esse problema se coloca tanto para o poeta como para o escultor. As imagens poéticas têm, também elas, uma matéria", G. Bachelar, em A Água e os sonhos.

4 comentários:

  1. Achei interessante este texto, talvez o ajude a navegar pelas águas....


    http://andreviniciuspessoa.blogspot.com.br/2008/08/gaston-bachelard-e-pedagogia-da.html


    Beijo

    ResponderExcluir

  2. Mais uma coisinha....

    http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/044/ANDRE_PESSOA.pdf


    Beijo

    ResponderExcluir
  3. Mais coisinhas...

    http://www.fflch.usp.br/df/gen/pdf/cn_010_04.pdf


    (mas acho que vc ja deve saber tuuuudinho...aceite entao como miminhos ao meu estudante preferido)

    ResponderExcluir

  4. eu fiz uma leitura dinamica às cegas...rs

    http://revistaliter.dominiotemporario.com/doc/BACHELARDEAIMAGEM.pdf


    mas tem fundamento.



    beijo

    ResponderExcluir