sábado, 7 de maio de 2011

"Maria é quem os cortara"


Perplexidade no labirinto, eis o sentimento e a situação. Ao menos uma das chaves acredito que já tenho em mãos: o primeiro parágrafo do conto “Argila”, que pode ser lido em Dublinenses, do Joyce. Lá está escrito: “Esses bolos pareciam inteiros, mas de perto via-se que tinham sido cortados em longas fatias muito finas (...)”. Aí está. Raríssimas de minhas ideias resistem. A miopia me iludia: a boa visão para o perto projetava no longe a figuração do conjunto, nunca me deixando ver de verdade o que estava perto: o detalhe da parte, os pedaços que, juntos, aí sim... Os pedaços cortados “em longas fatias muito finas” eu realmente nunca os vi. Nem nos livros nem na vida. Tenho mudado, no entanto. Tornei-me, repentinamente, de um dia para o outro, perito policial, médico legista, anatomista dissecador. Um reducionista. Não pode ser, não quero ser, mas é a única chave de que talvez disponha no momento. A esperança é de que a minha aplicação nesse trabalho de desmontagem de minha leitura por imagens, agora desmontando textos, não me deixe sem recuperar o conjunto, em que pese deva ser naturalmente outro, no comentário. Se minha leitura por imagens "for para o espaço", tanto melhor, que é este o meu objeto.

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