sexta-feira, 17 de junho de 2011

Random walk


Em minhas andanças pelos textos, em busca do espaço romanesco, tenho frequentado "lugares" esquisitos, como  o da casa randômica, por exemplo. O que me concede certa ilusão de segurança, é que estou geralmente bem acompanhado nessas incursões e via de regra tenho como guia Gaston Bachelard. É muito divertida a cena em que vejo os olhinhos assustados dos físicos apontando para um objeto, como a dizer: "aí está ele, você não vê?!". Para os físicos já não serve mais o espaço em que "se vai reto, vira pra direita ou pra esquerda e depois sobe" da mecânica newtoniana, em em pese a incerteza de não conseguirem explicar o duplo do objeto, que poderia ocupar dois lugares ao mesmo tempo, a sua matriz em partícula ou onda, sempre energia, do universo subatônico de Einstein. O objeto está em em toda parte, é só aprender a olhar. Na verdade é justamente "o observador" que complica o sistema. Outro dia, almoçando com um Doutor (possibilidades que o trabalho na Universidade me proporciona), economista, professor de econometria, apareceu um segundo Doutor, este físico, físico de partículas, a quem chamamos para se sentar à nossa mesa, pois havia lugar, espaço disputado nesses restaurantes de universidades em determinados horários. O físico se mostrava um pouco emburrado, diferente do seu trato comum. Após os cumprimentos, agradecimentos, sentenciou: "O mundo vai acabar!", o que bastou para iniciarmos uma séria de insinuações sobre o fato de ele estar trabalhando num projeto de acelerador de partículas, em parceria com uma universidade canadense. "Vocês vão explodir o mundo? - perguntamos. "Não, agora, ali, três moças entraram na minha frente, me tomaram três lugares na fila e nem se deram ao trabalho de me olhar na cara!". Acho que por pelo menos um segundo ficamos os dois, o economista e eu, pensando na perda do espaço do físico. Não se falou mais sobre o assunto, além do acordo geral de que o mundo vai mesmo acabar. Basta um homem morrer.

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