quarta-feira, 22 de junho de 2011

A Raiva não passou


A raiva não passou e talvez por isso ainda não li as 100 páginas necessárias. Gostaria apenas de acrescentar que é uma grande bobagem se pensar em uma ciência da literatura. Isso jamais vai existir e é bom que nunca exista mesmo. Em literatura só devem existir escritores, textos e leitores. Fora isso, só aceito que se acrescentem a história da produção, a  história da literatura e a história da recepção. Inimaginável querer que um estudioso, um professor de literatura não saiba (e jure que não é preciso saber) psicologia, física, biologia, antropologia, história. Que pensem que a eles basta a literatura. Como, se a literatura seja, tavez a mais ampla expressão do pensamento humano? Como? Vejamos Lévi-Strauss: "Uma antropologia entendida no seu mais amplo sentido, ou seja, um conhecimento do homem que associe diversos métodos e disciplinas, e que um dia nos revelará os mecanismos secretos que movem este hóspede que está presente sem ter sido convidado para os nossos debates: o espírito humano" (em Antropologia estrutural, p.91). Vejamos ainda Bachelard: "Diante dos espaços concretos, cuja aquisição os psicólogos nos ensinam - seja esse espaço, aliás, uma forma de intuição ou uma experiência mais ou menos esquematizada -, os matemáticos formaram uma multidão de construções, de essências muito diversas, mas das quais é possível destacar três grandes classes muito importantes: os espaços generalizados, os espaços de configuração e os espaços abstratos (...) Por espaços generalizados entendemos os espaços que mantêm ligações intuitivas com o espaço euclidiano comum: será esse o caso, por exemplo, dos espaços euclidianos com mais de três dimensões (...) Os espaços de configuração ganharam muita importância na mecânica ondulatória com os trabalhos de Schrödinger. Têm como finalidade principal descrever os movimentos de um sistema de pontos nas formas do movimento de um ponto único (...) Um espaço resulta do balanço do que se pode rejeitar e do que se deve reter da experiência. Uma segunda consequência mais oculta é que os temas de abstração são adequados para fornecer quadros de realização. Um espaço abstrato é uma hipótese plausível para organizar uma experiência. É uma tentação racional de experimentar. (...) Será necessário destacar o aspecto profundo, primordial, da idéia teórica que organiza um espaço?" (em A Experiência do espaço na física contemporânea, p.72-78). O mais capaz professor de literarura não sabe nada sobre as dúvidas que pesam as cabeças dos físicos, por exemplo, no campo da matéria: onda ou partícula? Sempre energia... E Riobaldo fala com todas as letras que o que conta não são propriamente os fatos, mas a matéria vertente, a coisa que se transforma noutra coisa, no seu contrário. Diz ainda aquele que o espaço está em toda parte. Sentencio: se eu estou atrasado uns mil anos, a crítica literária o está pelo menos uns cinquenta. Não gostaria de ter generalizado tanto.

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