terça-feira, 13 de março de 2012

Então, onde?


Chusma de trens todos muito estranhos, de muito talvez já soubesse. De pensar, dizer e escrever, para tudo carece ou pouca ou muita, um tanto será, de maquinação. Como se muito já se soubesse, mas quase um nadinha se pudesse. O texto, a teia, a figuração do diabo. Riobaldo mesmo, querendo entabular prosa com o demo, perguntava: "Posso me esconder de mim? Onde?", Então. O texto está pronto mas despaginado, eis tudo. Se quero despedaçar, como o outro fez, difícil demais é a paginação, a ordem. O arranjado confuso. Labirinto. Entanto, é como se eu dissesse: "Então, não existe? Existe? Então aparece, teia infernal. Manifeste-se, venha para diante dos meus olhos, para que possa ver, contemplá-la, arranjada como queira". Pois se é minha, nada mais justo que vê-la diante de mim. Não quer? Deus sabe.

Arre! Pois não estou dizendo: do lado de fora não há nada? Pois é isso. O espaço não guarda relação nenhuma nem com o real nem com o irreal. Quer que seja? Veja. Melhor: não veja. Será tudo o igual. O sempre mesmo, o que foi, que é. "O homem não é o sozinho? A pois". Escrevesse, como se nascesse. Assim, ia parecer ficar. 

domingo, 11 de março de 2012

Missa das onze e meia


3º Domingo da Quaresma
11 de março de 2012

"Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas (...). 'Tirai isso daqui'" (João, 2, 15-16)

Books no espaço

Valeu o Oscar (Curta de Animação):

sábado, 10 de março de 2012

Outra coisa é o espaço


"Seria necessário fazer uma crítica dessa desqualificação do espaço que vem reinando há várias gerações. Foi com Bergson, ou mesmo antes, que isso começou. O espaço é o que estava morto, fixo, não dialético, imóvel. Em compensação, o tempo era rico, fecundo, vivo, dialético".
(M. Foucault, 1988:159, na epígrafe de Espaço e literatura: introdução à topoanálise, do Prof. Ozíris Borges Filho, 2007, p.11)

sexta-feira, 9 de março de 2012

Eu sei que vou te amar



Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

Tom Jobim

A lua e o menino

quinta-feira, 8 de março de 2012

Saudade

Meu Deus, quanta saudade!
Quanta saudade, meu Deus,
um homem pode suportar?


Imagem: www.buziosonline.com.br

Fiéis do Amor II


“Se os olhos veem com amor, o corvo é branco; se com ódio, o cisne é negro”.
(Padre Antônio Vieira)

__

“Tem um não em todo sim, e as pessoas são muito variadas”.
(João Guimarães Rosa)

__

Se eu tivesse vivido na passagem do século XVII para o XVIII, ou na segunda metade do primeiro, juro por Deus que eu não perderia uma única missa do Padre Antônio Vieira. Aquele mesmo, variável, capaz da manobra mais arriscada com a palavra, sem se afastar jamais da linha que o conduziria exatamente ao que queria dizer desde o início. Homem reto por linhas tortas ou torto por linhas retas. Homem barroco, em que de tudo se pode ver um pouco. Depende dos olhos de quem observa e analisa. Padre Antônio Vieira era pactário? Com quem fez o pacto? Com o Rei decadente e infértil? Com o Reino na terra ou no Céu? Com a máquina mercante? Vieira precisa ser alcançado na dimensão das relações que viveu. Somente naquelas tensões se pode vislumbrar sua altura. Eu teria ido a todas as missas, mesmo que saísse mais cedo em algumas delas. Homem furiável, como o tempo presente?

É preciso compreender que a Idade Média está inteira, completamente toda, no Século das Luzes, no que veio depois e mesmo hoje, agora mesmo. Digo, reproduzindo: presente furiável, que se infiltra e fica. O suposto obscurantismo do medievo é ideia do iluminismo. Claro! Para que eu me afirme como Luz, preciso dizer que a sombra não está comigo. Para ter Razão chamo de louca a imaginação. Lembro-me da reação de Macunaíma, no centro de São Paulo, ao ouvir contarem um fragmento da história do Brasil: “Não é, não!”, ele disse. Porque contavam negando-o, preto retinto, filho da noite. Lógica inaceitável. Os tempos estão todos num só, e as cores também.

Como pode: a mãe ser filha do próprio filho? Maria é. Mulher.

___

“Vergine Madre, figlia del tuo figlio,
umile e alta piú che creatura,
termine fisso d´etterno consiglio;

Tu se´colei che l´umana natura
nobilitasti si, che ´l suo fattore
non disdegnò di farsi sua fatura.

Nel ventre tuo si raccese l´amore,
per ló cui caldo ne l´etterna pace
cosi è germinato questa fiore”.

(Dante ALIGHIERI, Commedia, PAR XXXIII, 1-9)