quarta-feira, 7 de março de 2012

Sonata ao luar

O Silêncio dos livros from Paula Montoro on Vimeo.


Vida minha,
Que queres ainda de mim?
Não tenho mais sonhos.

Sonhos meus,
Que quereis ainda de mim?
Não tenho mais sonos.

Lua minha,
Por que insistes em me visitar?
Não tenho mais nada a dizer.

Brisa leve da madrugada,
Por que me sacodes assim?
Ainda crês?

segunda-feira, 5 de março de 2012

Textos e tapetes

"Fazer um livro é como bordar um tapete: cada um que vê acha uma coisa. Se o leitor achou isso, é porque ali está: o leitor tem sempre razão" (JGR, Jornal do Brasil, 11 jan. 1959).

Isso não vale para os críticos, pelo menos enquanto críticos.

domingo, 4 de março de 2012

Pas moyen!

Monogrenade: Ce soir from Monogrenade on Vimeo.


"Ce Soir"


Ce soir je te fais danser
Je te jure, je te fais danser
Je t'ai pas oubliée

C'est juste que ça me hante
Que tu me vois étrange
Qu'un jour on se réveille
Plus jamais pareils (x3)

Qu'on se dévisage..

Ce soir je te fais danser
Dans ce monde insensé
Je t'ai pas oubliée

(...)

Alquimia I

“(...) Deus é um gatilho?
Mas conto menos do que foi: a meio, por em dobro não contar. Assim seja que o senhor uma idéia se faça. Altas misérias nossas. Mesmo eu – que, o senhor já viu, reviro retentiva com espelho cem-dobro de lumes, e tudo, graúdo e miúdo, guardo – mesmo eu não acerto no descrever o que se passou assim, passamos, cercados, guerreantes dentro da Casa dos Tucanos, pelas balas dos capangas do Hermógenes, por causa. Vá de retro! – nanje os dias e as noites não recordo. Digo os seis, e acho que minto; se der por os cinco ou quatro, não minto mais? Só foi um tempo. Só que alargou demora de anos – às vezes achei; ou às vezes também, por diverso sentir, acho que se perpassou, zúo de um minuto mito: briga de beija-flor. Agora, que mais idoso me vejo, e quanto mais remoto aquilo reside, a lembrança demuda de valor – se transforma, se compõe, em uma espécie de decorrido formoso. Consegui o pensar direito: penso como um rio tanto anda: que as árvores das beiradas mal nem vejo... Quem me entende? O que eu queira. Os fatos passados obedecem à gente; os em vir, também. Só o poder do presente é que é furiável? Não. Esse obedece igual – e é o que é. Isto, já aprendi. A bobéia? Pois, de mim, isto o que é, o senhor saiba – é lavar ouro. Então, onde é que está a verdadeira lâmpada de Deus, a lisa e real verdade?”

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 19ª edição. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001, p.359.

Missa das onze e meia



2º Domingo da Quaresma
4 de março de 2012.

"Guardei a minha fé, mesmo dizendo: 'É demais o sofrimento em minha vida´" (Salmo 115 (116B), 10).

Getúlio Dornelles Vargas VI


"Getúlio [Vargas] emergiu pela primeira vez na polítrica do Rio Grande [do Sul] em 1907, quando se abriu uma dissidência no PRR [Partido Republicano Rio-Grandense], contrária à indicação de Carlos Barbosa Gonçalves a presidente do estado, por determinação de Borges de Medeiros. Um grupo de estudantes de direito, a partir de uma reunião realizada na Pensão Medeiros, formou o bloco castilhista, em apoio ao candidato oficial, reunindo nomes que, em graus variáveis de importância, seriam personagens centrais da cena política nacional. Dentre eles, começando pelos civis, Getúlio em primeiro lugar, João Neves da Fontoura, Maurício Cardoso, Firmino Paim Filho. Dentre os militares, dois cadetes da Escola de Guerra de Porto Alegre: Pedro Aurélio de Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra. Esse grupo estaria intimamente ligado à carreira de Getúlio, sustentando-o na maioria das vezes, divergindo dele ou rompendo relações em certas ocasiões" FAUSTO, Boris. Getúlio Vargas: o poder e o sorriso. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p.25-26. (Grifo meu em João Neves da Fontoura, para quem quiser entender meu figurado).

sábado, 3 de março de 2012

Romances






Quantas lembranças um livro pode trazer. O que um livro pode guardar de espaços, traços que unem vidas. Ontem qualquer coisa trouxe de volta às minhas mãos o velho O Coronel e o lobisomem. Nome completo: “Deixados do Oficial Superior da Guarda Nacional, Ponciano de Azeredo Furtado, natural na praça de São Salvador de Campos dos Goitacazes”. José Cândido de Carvalho. Poty e Appe. Deixei-me ficar a segurar o livro e a observá-lo sem abrir. Sem mover nada, todos os nove céus giravam: eu recordava. O livro trazia de volta ao meu coração uma vida inteira que ainda é. 41ª edição, 1994. Não é qualquer ano: fazia um ano um encontro eterno para mim, nesse 1994. Na capa, que reproduz xilogravura de Cyro, o charuto, as mãos grossas, a barba, a rudeza do olhar ameaçador e amedrontado do Coronel Ponciano de Azeredo Furtado. Vou voltando e contemplo na lombada o sobre e sublinhado JO, de tantas façanhas. José Olympio Editora. Do outro lado, outro Cyro, xilo: Ponciano com a sereia nos braços, rostos de Pablo Picasso, lua cheia ao fundo, cabelo e mar. Susto. O Sobradinho, uma fazenda, um reino. Um papagaio me aparece e eu aperto o livro nas mãos. Fecho os olhos. O branco e o laranja e o escuro das gravuras ainda se demoram, fixados, mas vão sumindo... De olhos fechados vejo Ponciano de pé, firme, inseguro, ombros para trás, com medo, fuzilando com os olhos, quase a se borrar no umbral da fachada do Sobradinho. Gritando a chorar. Um desastre de homem tão humano... Acolhedor. Que acolhe a dor. Um dia ela me disse: “É o melhor livro que já li”. Eu disse apenas que ela tinha bom gosto e passamos a nos rir muito dos ventos encanados e das guerras de exterminação.
 

Getúlio Dornelles Vargas V

“(...) Por mais amizade que lhe tenha e liberdade que tome consigo, sempre é certo que diante de você não esqueço nunca o ministro, que me assusta, me diminui e me subalterniza. Isto, aliás, me deixa danado de raiva e é a razão por que fujo sempre das altas personalidades. Por carta e de longe, posso me explicar com menos propensão ao consentimento” (Mário de Andrade, 23.2.1939 apud Helena Bomeny).

“(...) É verdade que minha colaboração foi sempre prestada ao amigo (e só este, de resto, lhe perdoaria as impertinências de que costuma revestir-se), e não propriamente ao ministro nem ao governo, mas seria impossível dissociar essas entidades e, se eu o conseguisse, isto poderia servir de escusa para mim, porém não beneficiaria o ministro...” (Carlos Drummond de Andrade, 25.3.1936 apud Helena Bomeny).



Gustavo Capanema foi ministro da Educação e Saúde Pública de Vargas, de 1934 até a deposição de Getúlio pelas forças armadas em 1945. Da equipe de Capanema no ministério fizeram parte, entre outros, Mário de Andrade, Cândido Portinari, Manuel Bandeira, Heitor Vila-Lobos, Cecília Meireles, Lúcio Costa e Vinícius de Morais. Seu chefe de Gabinete foi Carlos Drummond de Andrade.