sábado, 3 de setembro de 2011

Brasil

O que, exatamente, se formou nesse lugar que chamam Brasil? Digo ainda que, exatamente, nada se formou. Talvez esse advérbio jamais se aplique a este espaço. Acho possível que o Brasil seja o avesso da exatidão. O Brasil é Bizantino, mosaico, múltiplo, mas talvez possamos desconfiar de onde vem a força que anima sua forma em devir.



Grupo de violeiros de Buritis, Minas Gerais.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A estações por aqui



 O outono e a primavera, tudo no mês de agosto, diante da janela do escritório.

Tradição e modernidade

Queiram me desculpar, mas essa conversa de “centro e periferia” já está para lá de Khandahar. Isso, sim, é uma ideia fora do lugar, digo, do tempo.  Para o caso brasileiro ainda resiste uma  leitura marxista moribunda, economicista, que acredita piamente (sim, piamente, que se apresenta com mais convicção que no argumento que a fé que o Papa tem Jesus Cristo), que somos a periferia do capitalismo.  Nem se fosse periferia geográfica, outro conceito embolorado, que... Tá, vamos lá, de novo, há ainda que dele se utiliza.

Primeiro: há vários centros e não apenas um, o que desmonta de forma absoluta a ideia de centro, ou exige dela completa reescrita. Uma das grandes genialidades do capitalismo foi nunca colocar uma plaquinha na porta da casa, dizendo: “aqui é a casa do capitalista, explorador do trabalho dos homens”. Chega disso. Na periferia, por outro lado, encontro novos “centros” que, por sua vez, geram novas periferias que, bom... Chega.


Segundo: no caso brasileiro, se a ocupação vai da margem, da costa (“periferia”) para o interior, as terras altas (“centro”), esse é um movimento padrão no processo do colonialismo. Até onde eu sei nenhum holandês desembarcou de helicóptero no lugar em está hoje Uganda, no centro da África. Foi pela costa que todos chegaram. O que eu quero dizer é que o “centro”, assim como a “periferia”, são construções ideológicas, para legitimar determinados interesses políticos e econômicos de grupos bem específicos. O que assusta é que os doutores alimentem esse discurso. Não duvido de que muitos até ganhem dinheiro com isso.

Finalizando esse papo mais chato de todos, defendo que, via de regra, o centro de qualquer coisa está no centro dela mesma. São Paulo não é o centro de nada, apenas sendo possível encontrar o centro de São Paulo. Muito menos e da mesma forma para o Rio de Janeiro. Aliás, quanto mais próximo da costa, mais longe do centro da brasilidade. Isso por causa do contato, das trocas, que diluem, criando novas formas. É por isso que no meio do mato se fala a língua de Goethe, ao passo que nas ruas de São Paulo “o que rola é o Hip Hop”. É por isso que no sertão é possível encontrar Antígona, tentando enterrar Polinice, e no Rio de Janeiro se produz telenovela em lata.

O fio que liga o Brasil a Ariadne não passa nem por Ipanema nem pela Avenida Paulista. Tenho certeza de que passa por Abadia de Goiás, pelas pontas dos dedos e das ideias do "Anjo Alecrin".



Riobaldo fala dos chefes


 Medeiro Vaz
“Montante, o mais supro, mais sério”

Joca Ramiro
“Grande homem príncipe – era político”

Zé Bebelo
“Quis ser político, mas teve e não sorte: raposa que demorou”

Sô Candelário
“Se endiabrou, por pensar que estava com doença má”

Titão Passos
“Era o pelo preço dos amigos: só por via deles, de suas mesmas amizades, foi que tão alto se ajagunçou”

O Hermógenes
“Endemoniado”; (...) “único que nasceu formado tigre, e assassim”

O Ricardão
“Queria, mesmo, era ser rico em paz: para isso guerreava”

Riobaldo/Tatarana/Urutu-Branco
“Esse... tristonho levado, que foi – que era um podre menino do destino...”

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O sentimento fora do lugar

Dono do Cerrado, dos chapadões e das chapadas
É o boi, de que tudo se fez na imaginação
No susto, do medo da chuva, boi molhado
Arado chão também se fez

E o verso no som da viola movimentava lua e boi
Violetas pingadas de orvalho cresciam
Entre tapiocangas , gravetos e cascalho
Tudo parado na imaginação

Esse espaço parado estranho
Estranha a cidade
E a intimidade é a mesma salve, salve
O homem, o boi, a violeta

Estes, sentimentalmente,
Serão os mesmos
Aqueles mesmos
O que está fora de lugar é o sentimento.




Nonada?

Uma perspectiva...

Centro da periferia?

Mensagem de Donga, digo, do Brasil,
por Martinho da Vila.

Ideologia


Difícil demais dialogar. Eis um princípio meu. Talvez seja  um traço de família e, se fosse, juro que me sentiria mais apaziguado. Muito mais difícil é tentar dialogar com quem já tem todas as respostas para todas as coisas que quer discutir. Essas pessoas simulam a troca, armam todo um circo para que tudo pareça o mais democrático possível, mas eis que nenhuma ideia “estranha” pode se sustentar ali. O próprio discurso é negado. O autoritário ideológico não percebe, na sua mais douta ignorância, que se nega quando fala. Que se altera diante da cogitação inesperada. O bom de tudo isso é que eu não tenho medo e, o pior, é que eu fico com raiva, embruteço nos argumentos. Não na hora. Na hora me calo e finjo não mais ouvir nenhuma palavra. Abandono a fala toda poderosa do dono do saber. Abandono a conversa a ponto de ser chamado para o debate e não falar. Insisto no silêncio pesado, com o objetivo calculado de que ele seja sentido. E não cedo, não arredo pé do silêncio obsequioso diante de quem tem certezas, de quem acredita que sabe todas as respostas. A minha mensagem para essas pessoas é bem simples: não contracenar. De mim elas não se servirão. Eu, sim, me servirei delas para aproveitar o que eu achar no lixo. Eu sei que posso achar uma rosa no monte de lixo. Eu não quero respostas prontas, quero as minhas construídas. As que me sirvam. Não quero a certeza; quero a dúvida que possa me iluminar. É possível que eu tenha estado este tempo todo a falar de mim mesmo. Não duvido. Duvido, sim, metodologicamente.