sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Tradição e modernidade

Queiram me desculpar, mas essa conversa de “centro e periferia” já está para lá de Khandahar. Isso, sim, é uma ideia fora do lugar, digo, do tempo.  Para o caso brasileiro ainda resiste uma  leitura marxista moribunda, economicista, que acredita piamente (sim, piamente, que se apresenta com mais convicção que no argumento que a fé que o Papa tem Jesus Cristo), que somos a periferia do capitalismo.  Nem se fosse periferia geográfica, outro conceito embolorado, que... Tá, vamos lá, de novo, há ainda que dele se utiliza.

Primeiro: há vários centros e não apenas um, o que desmonta de forma absoluta a ideia de centro, ou exige dela completa reescrita. Uma das grandes genialidades do capitalismo foi nunca colocar uma plaquinha na porta da casa, dizendo: “aqui é a casa do capitalista, explorador do trabalho dos homens”. Chega disso. Na periferia, por outro lado, encontro novos “centros” que, por sua vez, geram novas periferias que, bom... Chega.


Segundo: no caso brasileiro, se a ocupação vai da margem, da costa (“periferia”) para o interior, as terras altas (“centro”), esse é um movimento padrão no processo do colonialismo. Até onde eu sei nenhum holandês desembarcou de helicóptero no lugar em está hoje Uganda, no centro da África. Foi pela costa que todos chegaram. O que eu quero dizer é que o “centro”, assim como a “periferia”, são construções ideológicas, para legitimar determinados interesses políticos e econômicos de grupos bem específicos. O que assusta é que os doutores alimentem esse discurso. Não duvido de que muitos até ganhem dinheiro com isso.

Finalizando esse papo mais chato de todos, defendo que, via de regra, o centro de qualquer coisa está no centro dela mesma. São Paulo não é o centro de nada, apenas sendo possível encontrar o centro de São Paulo. Muito menos e da mesma forma para o Rio de Janeiro. Aliás, quanto mais próximo da costa, mais longe do centro da brasilidade. Isso por causa do contato, das trocas, que diluem, criando novas formas. É por isso que no meio do mato se fala a língua de Goethe, ao passo que nas ruas de São Paulo “o que rola é o Hip Hop”. É por isso que no sertão é possível encontrar Antígona, tentando enterrar Polinice, e no Rio de Janeiro se produz telenovela em lata.

O fio que liga o Brasil a Ariadne não passa nem por Ipanema nem pela Avenida Paulista. Tenho certeza de que passa por Abadia de Goiás, pelas pontas dos dedos e das ideias do "Anjo Alecrin".



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