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N.Sra. da Conceição, Congonhas-MG (Foto: Imaginário) |
No centro da celebração, duas viúvas:
“Então, Elias se levantou e se foi a Sarepta;
chegando à porta da cidade, estava ali uma mulher viúva apanhando lenha; ele a
chamou e lhe disse: Traze-me, peço-te, uma vasilha de água para eu beber. Indo
ela a buscá-la, ele a chamou e lhe disse: Traze-me também um bocado de pão na
tua mão. Porém ela respondeu: Tão certo como vive o SENHOR, teu Deus, nada
tenho cozido; há somente um punhado de farinha numa panela e um pouco de azeite
numa botija; e, vês aqui, apanhei dois cavacos e vou preparar esse resto de
comida para mim e para o meu filho; comê-lo-emos e morreremos. Elias lhe disse:
Não temas; vai e faze o que disseste; mas primeiro faze dele para mim um bolo
pequeno e traze-mo aqui fora; depois, farás para ti mesma e para teu filho. Porque
assim diz o SENHOR, Deus de Israel: A farinha da tua panela não se acabará, e o
azeite da tua botija não faltará, até ao dia em que o SENHOR fizer chover sobre
a terra. Foi ela e fez segundo a palavra de Elias; assim, comeram ele, ela e a
sua casa muitos dias (Reis 1, 17, 10-15).
"E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca; e muitos ricos lançavam muito. Vindo, porém, uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo. E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva lançou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro; porque todos ali deixaram do que lhes sobrava, mas esta, da sua pobreza, deixou tudo o que tinha, todo o seu sustento" (Marcos 12, 41-44).
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“No episódio do óbolo da viúva no Templo de
Jerusalém, Jesus se mostrou, ainda uma vez, um Mestre admirável ao elogiar o
gesto de uma pobre mulher, mostrando que seu donativo de pequeno valor estava
acima de todas as outras ofertas daqueles que depositaram vultosas
quantias.
Explicou então: “Todos deram do que tinham de
sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para
viver” (Mc 12,44).. Não sabemos nada acerca desta mulher, nada sobre suas
alegrias ou tristezas, nem das dificuldades para ajuntar as duas moedas.
Sabemos somente que as viúvas da época de Jesus estavam entre as mais pobres do
povo. Não tinham nenhum lugar garantido para morar, nem nenhuma fonte de renda.
Estavam destinadas praticamente à mendicidade.
Entretanto, o que nos deve prender a atenção não é tanto a diferença entre a
doação de uma daquelas viúvas e a dos outros, mas o significado daquele dom.
Ela estava completamente sem recursos materiais, mas deu tudo que ela tinha
para viver. Jesus se serviu do acontecimento para ensinar a seus seguidores a
não julgar apenas pelo exterior. O Pai do Céu vê o que está secreto no íntimo
do coração. Isto basta. Esta lição interpela a todos os cristãos que vivem o
contexto atual onde o aparecer é que predomina. Tudo que se faz deve cair no
conhecimento de todos.
A viúva do Evangelho, porém, é bem a imagem das
pessoas muito simples que estão ao nosso lado sem que as vejamos. Na sua
discrição passam despercebidas. Por isto, a caridade de muitos se transforma
num espetáculo e os pequenos gestos de serviços são deixados de lado, a ajuda
aos deserdados fica esquecida. O importante não é o quanto se doa, mas a
intenção com que se oferta e a postura religiosa do ofertante.
O governo que arrecada trilhões através dos
impostos vive apresentando na mídia suas realizações mirabolantes, enquanto
milhares de brasileiros continuam na miséria, carentes de uma boa assistência
para a saúde, lhes faltando tantas vezes o mínimo para sobreviver. Para cada
cristão Jesus está a lembrar que cumpre aprender a viver sob o olhar de Deus
que vislumbra globalmente os mais necessitados e também o motivo de toda e
qualquer assistência, a razão de ser da esmola que é dada. Cristo questiona o
critério da generosidade, mesmo porque, de um modo geral, muitos políticos
nunca tiram de suas posses, mas daquilo que advém dos cofres públicos. O gesto
espontâneo e gratuito não deve ser coisa devida ou a exigir contrapartida. Deve
provir da fonte nobre do amor e da solidariedade sincera.
A pobre viúva ofertou o que tinha porque ela se
doava a Deus, confiava em Deus a quem desejava honrar com aquela doação tão
simples. Os que fazem ofertas com ostentação nada contam diante do Ser Supremo.
Aliás, que vale uma esmola que não priva a pessoa de nada? No contexto
histórico atual no qual impera a rentabilidade tudo isto merece ser refletido.
É preciso que se combatam as visões egoísticas e interesseiras. Por força de
vivermos num mundo onde tudo é contado, medido, calculado, contabilizado,
se acaba, sem querer, a julgar as coisas em função do peso que dá a economia,
em função da influência que o poder exerce.
O critério é a quantidade e não a reta intenção e,
por isto, a pessoa humana fica desvalorizada. As aparências, contudo, não
impressionam a Deus, que olha o íntimo do coração. A qualidade do coração do
que dá é que vele e não a quantidade e os motivos meramente humanos. Deus quer
que assistamos o próximo não apenas com o supérfluo, mas, sobretudo, com aquilo
que é fruto de sacrifício, de privação voluntária do que é inútil na vida de
cada um. É preciso, portanto, isto sim, investir tendo em vista o Reino de
Deus, o amor ao semelhante e a paz social. Jesus veio mudar as ideias habituais
sobre o dom, sobre a riqueza e a pobreza. Alguém pode ter muitos bens e ser
pobre de coração ou alguém pode possuir pouco mais ter um coração rico.
O que vale não os valores terrenos, o conforto, o
dinheiro, nem mesmo o que não se tem, a própria fragilidade, mas a postura de
desambição, de desapego de tudo, valorizando-se apenas aquilo que esteja
imbuído de um sincero amor a Deus e ao próximo. Isto leva à imitação cabal do
Filho de Deus que ocultou até de sua divindade, levado pela dileção imensa por
toda a humanidade. Ele conhece o fundo dos corações e as intenções de tudo que
se faz”.