quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Cena na parede

Ao entregar a casa ao locador, é preciso consertar, pintar, recolocar e tirar coisas, para devolvê-la a um suposto estado de como era quando foi recebida. Ao desmontar minhas imagens nas paredes, parei todo o serviço diante da fotografia que recortei da National Geographic e colei um dia na parede. Cuidava, a bela foto, da imagem de uma criança paquistanesa numa aula de música. Ali ainda estava ela, à minha frente, pouco acima da telinha do notebook. Sentei-me na velha cadeira.

Cena na parede

Em frente de mim,
na parede eu mesmo colei
a figura do menino tocando um violino.
Ele está sentado em um banquinho comprido.

Atrás do menino aparece a partitura, num quadro verde,
da música antiga de que ninguém mais se lembrasse. Pensei.

Fui eu mesmo que plantei ali a cena:
menino, violino, partitura...
O verde do quadro e o vermelho da camisa.

Na cena, não se pode ver os olhos da criança,
que olham as cordas
– centro que move tudo em volta.

Meus próprios olhos estão girando
ao som do silêncio que criei.

Em seguida, num lance rápido, incalculado, arranquei a fotografia de lá, junto com todo o resto, embolei e joguei no cestinho que a levaria ao lixo, na rua. Restou uma parede de memória, de coisas que, se não vão embora, também não voltam mais.


15 comentários:

  1. A veces se necesita arrancar de nuestro interior las escenas dolorosas, pero está el subconsciente que nos traiciona. Gracias.

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  2. Arrancou mesmo e deitou para o lixo a fotografia, Gilson, ou está a “narrar”?
    Se bem que quando se muda de casa, acabamos por deitar fora muita coisa.

    Saudações forninhenses.

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  3. Esos Recuerdos que siempre acaban por brotar en nuestro subconsciente.
    Um abraço.

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  4. Só faltou a imagem da realidade descrita.

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  5. Me esqueci de dizer da sua inquietude nos últimos dias. fundos de páginas diversos... Grande sinal!

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  6. Olá

    O que dizer
    de tão intensa
    cena...

    Que os sonhos te abracem
    a cada esquina da vida...

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  7. Ola gosto de tu escrito y gosto de que pases por o meu blog..
    muito obrigada..

    e um beijinho

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  8. "Ao desmontar minhas imagens nas paredes, parei todo o serviço diante da fotografia que recortei da National Geographic e colei um dia na parede." - não eras tu, Gilson, era uma imagem que julgavas tua, mas não tu.

    "Atrás do menino aparece a partitura" - inversão/desorganização da imagem (por saber a música tantas vezes tocada).

    "as cordas (...)ao som do silêncio que criei."- quebra o silêncio, deixa o violino calado.

    Restou uma parede de memórias? Quem as não tem? Uma parede, digamos, meia vazia. Está branca a parede, eu sei, porque se o não fosse a foto/grafia não a teria enchido de cor. Mas do branco se fazem outras cores, mais suaves.

    Muda de casa ( apesar de haver " coisas que, se não vão embora,") e arranja outra fotografia! Sugiro a de um céu azul onde se desenhe o voo de um pássaro, o teu voo!

    Beijinho, Gilson

    Laura

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  9. Evocaciones que llegan envueltas en imágenes y música y crean una escena emotiva y que nos transmites sentimientos.
    Feliz de leerte.
    Un abrazo

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  10. OI AMIGO!
    NA VIDA, MUITAS VEZES COISAS NOS SÃO ARRANCADAS, OU NÓS MESMOS O FAZEMOS MAS, ALGUMAS PERMANECEM PARA SEMPRE NO CORAÇÃO.
    BONITO!
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/ClickAQUI

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  11. Carinhosamente venho desejar um feliz e abençoado final Domingo.
    Uma semana de Realizações. sonhos realizados,
    pois a vida é um constante recomeçar.
    Beijos paz e luz,Evanir.

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  12. .

    .

    . rastos da memória . que jamais esquece o tempo que passa .

    .

    . belíssimo .

    .

    . um forte abraço .

    .

    .

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  13. Há recordações que são tão marcantes como as doenças.Mesmo depois da cura, nunca as podemos esquecer!

    Um abração

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  14. ...e, porém, somos também feitos de memória...

    gd abraço

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