“Como não
ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível,
o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e
a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo
facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um
pouquinho, pois no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem
licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa
encantoada – erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços.
Dor não dói até em criancinhas e bichos, e nos doidos – não dói sem precisar de
se ter razão nem conhecimento? E as pessoas não nascem sempre? Ah, medo tenho
não é de ver morte, mas de ver nascimento. Medo mistério. O senhor não vê? O
que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o
demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe,
aí é que ele toma conta de tudo. O inferno é um sem-fim que nem não se pode
ver. Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a
gente tudo vendo” (João Guimarães Rosa, em Grande
sertão: veredas).
Às vezes olho para a água e reconheço nela meu
primeiro espelho.
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Para Riobaldo os rios não escorrem horizontalmente,
mas crescem, como árvores, na vertical, à semelhança de um grande tronco. Suas
margens são abismos, paredões, precipícios. Toda a matéria viva na terra
“cresce” nessa mesma direção, em busca de luz. Por isso os “rios bonitos” são
os que nascem no poente (na sombra) e caminham, não descendo, mas subindo em
direção à luz, ao sol nascente. São orientados para o conhecimento. “Hora
da palavra, hora de não dizer nada, fora da palavra, quando mais dentro aflora
toda a palavra, rio”. O homem no meio do rio, como o "diabo na rua, no
meio do redemoinho".
Aspas para JGR, via Riobaldo, e para Milton
Nascimento.
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“Observai-vos.
Caímos num padrão de pensamento e de ação, no qual nos deixamos ficar por ser
muito mais cômodo, pois já não temos necessidade de pensar; antes, talvez
tenhamos refletido um pouco, mas agora não há mais necessidade de fazê-lo. Isso
proporciona ao indivíduo uma enorme satisfação como fazê-lo pensar que está
realizando um ótimo trabalho; ele não ousa questionar nada, porque isso é muito
incômodo e perturbador. Não ousais questionar vossa religião, vossa comunidade,
vossa crença, a estrutura social, o nacionalismo, a guerra; aceitai tudo;
Observai-vos interiormente. Vede como sois indolentes. O caos atual é devido a
vossa indolência, porque desististes de questionar, desististes de duvidar;
porque aceitais” (Jiddu Krishnamurti).
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“La science est la connaissance
rationelle, discursive, toujours indirecte, une connaissance par reflet. Cette intuition intelectuelle pure, sans laquelle Il
n’y a pas de métaphysique vraie, ne doit d’ailleurs aucunement être assimillée
à l’intuition don’t parlent certains philosophes contemporains, car celle-ci
est, au contraire, infra-rationelle. Il y a une intuition intelectuelle
et une intuition sensible; l’une est au delà de la raison, mais l’autre est en
deçà.; cette dernière ne peut saisir que le monde du changement et du devenir,
c´est-à-dire la nature, ou plutôt un infime partie de la nature. Le domaine
de l’intuition intelectuelle, au contraire, c´est le domaine des principles
éternels et immuables, c´est le domaine métaphysique” (René Guenon, na Metafísica oriental).